Manuel Abranches de Soveral

 

 

 

Casa da Trofa

origens

armas

1º senhor

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6º senhor

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8º senhor

9º senhor

10º senhor

descendência

sangue real

representação

análise

bibliografia

 

AS ARMAS usadas pelos senhores da Trofa são: em campo vermelho, cinco cadernas de crescentes de ouro. Os últimos três senhores da Trofa usaram um escudo partido de Lemos e Carvalho, por descenderem de Jerónimo de Carvalho e Vasconcellos e de sua mulher D. Jerónima de Lemos, herdeira da Casa da Trofa. Acrescentaram assim as armas dos Carvalho, se bem que mantendo os Lemos no quartel da varonia. É ainda curioso verificar que a varonia deste Jerónimo não era Carvalho mas sim Vasconcellos, como se explicará na página reservada ao 7º senhor da Trofa.

Pedra de armas existente na cúpula da capela-mor da Trofa (Lemos em pleno) e túmulo e armas de Fernão Gomes de Góis na matriz de Oliveira do Conde.

Quanto às armas dos Lemos convirá dizer que, se é facto que os Senhores da Trofa sempre usaram as cinco cadernas, o mesmo não se passou com Gomes Martins de Lemos «o Velho», pai do 1º senhor da Trofa. No selo de um documento de 1386, inventariado pelo marquês de Abrantes, vê-se o seu escudo de armas: não com cinco cadernas, portanto em aspa, mas com seis, portanto em pala. Ou seja, as armas habitualmente atribuídas aos Góis. Embora noutros selos do mesmo apareçam as cinco cadernas.  E também as seis cadernas em aspa usou seu filho mais velho Fernão Gomes de Góis, como se vê no seu túmulo em Oliveira do Conde, notável pelos admiráveis motivos escultóricos e pela estátua jacente. Acontece, porém, que Gomes Martins de Lemos «o Velho» não era Góis, mas sim casado com uma Góis, por via do que sucedeu no senhorio e morgado da vila deste nome. E o citado documento não poderia referir-se a seu filho homónimo, o 1º senhor da Trofa, que naquela data ainda não tinha nascido nem veio a usar aquelas armas. Por outro lado, o chefe da família Góis, o alcaide-mor de Lisboa Estêvão Vasques de Góis, avô da mulher de Gomes Martins de Lemos, a quem fez sucessora por testamento de 28.4.1389, deixou também as suas armas num selo de um documento de 1367, igualmente inventariado pelo marquês de Abrantes, onde se vê que não usava as armas atribuídas aos Góis mas sim «um escudo português esquartelado de: 1º, um castelo de três torres, encimada a do meio por uma ave estendida; 2º, três grandes mosquetas de arminho; 3º, um palado de nove peças; 4º, indecifrável», mas que se conclui ser um leão rompante por outras vias, nomeadamente o túmulo, na capela-mor da matriz da Lousã, de D. Inez de Góis, mulher de Pedro Machado, senhor de Entre-Homem-e-Cávado e neta do prior do Crato D. Frei Nuno Gonçalves de Góis.

Selo de armas de Estêvão Vasques de Góis, alcaide-mor de Lisboa (desenho publicado pelo marquês de Abrantes) e escudo de armas do 2º conde da Sortelha,    D. Diogo da Silveira, no hospital de Góis, que fundou.

Ora, este escudo usado por Estêvão Vasques de Góis apresenta significativas semelhanças com as armas atribuídas aos Góios: cortado, o 1º de prata, com três palas de púrpura, e de vermelho com um castelo de três torres, o 2º de prata, com três grandes mosquetas de arminho de negro, em faxa. E Góios é, justamente, uma das grafias usadas na Idade Média pela família Góis. De resto, a origem atribuída aos Góios e aos Góis (ou Goes) é a mesma: ambos descendem do famoso D. Anaia Vestruariz «da Estrada», senhor de Semide (Miranda do Corvo), que a 1110 recebeu da rainha Dona Teresa, mãe de D.Afonso Henriques, o senhorio de Góis, onde fundou a actual vila e a sua primeira igreja matriz, cujo padroado doou, com sua mulher, ao mosteiro de Lorvão em 1124.

Parece, assim, de concluir que as originais armas dos Góis se caracterizavam pelas três grandes mosquetas de arminho e o castelo de três torres. Porque razão, então, aos Góis são dadas umas armas quase idênticas às dos Lemos, com a única diferença (para além da mudança da cor e metal) de aquelas terem mais uma caderna do que estas? Tanto mais que se sabe, como ficou dito, que Gomes Martins de Lemos «o Velho», que não tinha ascendência Góis, usava as armas que lhes são atribuídas. A resposta parece evidente: Gomes Martins de Lemos «o Velho», que teve o senhorio de Góis por sua mulher, terá usado um escudo de armas com um número variável cadernas (cinco ou seis). Enquanto seu filho mais novo, o 1º senhor da Trofa, fixou o seu escudo nas cinco cadernas, o filho mais velho Fernão Gomes de Lemos, depois dito de Góis por suceder no senhorio de Góis, fixou o seu escudo de armas nas seis cadernas, que passaram a partir daí a ser identificadas muito justamente como as dos Góis. Estas duas versões das armas dos Lemos (seis ou cinco cadernas) vão, aliás, reflectir-se no escudo de armas dos condes da Sortelha. Com feito, D. Luiz da Silveira, 1º conde da Sortelha (22.7.1527), bisneto sucessor daquele Fernão Gomes de Góis, e por isso senhor de Oliveira do Conde e senhor de Góis,  está sepultado em belíssimo túmulo na igreja desta vila com um escudo esquartelado que tem nos 1º e 4º quartéis as armas dos Silveira (da varonia), e nos 2º e 3º respectivamente as seis e as cinco cadernas. Bem assim como seu filho sucessor D. Diogo da Silveira.

Quer isto dizer que as armas hoje geralmente atribuídas aos Góis apenas dizem respeito ao senhores de Góis posteriores a Gomes Martins de Lemos «o Velho». Ou seja, aos condes de Sortelha e marqueses de Abrantes. Porque da descendência deste Gomes Martins só usaram o nome Góis seu filho e sua única neta e sucessora, D. Beatriz de Góis, casada com Diogo da Silveira. Todos os outros Góis, portanto, não deviam usar estas mas sim as atribuídas aos Góios.

Esta especificidade quatrocentista passou no entanto despercebida à reforma manuelina da Heráldica portuguesa no século XVI, quer no Livro do Armeiro-Mór e no Livro da Nobreza, quer nos brasões da Sala de Sintra, onde aparecem os Lemos (nº 33) com as cinco cadernas de ouro em campo vermelho, os Góis (nº 56) com as seis cadernas de prata em campo azul e os Góios (nº 65) com a composição que ficou descrita. O que levou à posterior passagem de cartas de armas de Góis a pessoas que deviam usar Góios. Sendo o primeiro a receber erradamente estas novas armas, em 1513, Pedro de Góis, filho legítimo de Álvaro Gonçalves, criado D. Afonso V, e de Leonor de Góis, filha legítima de Álvaro Vaz de Góis, sendo este irmão de Nuno de Góis, alcaide-mor que foi de Alenquer, ambos do tronco da linhagem dos Góis. Diz a mercê que a carta de armas é concedida de acordo com o registo nos livros de registos das armas dos nobres e fidalgos dos reinos que tem Portugal, principal rei de armas, o que confirma o que ficou dito, ou seja, que estas armas foram dadas com base na reforma heráldica que tinha sido (mal) feita. As armas concedidas são as ditas seis cadernas de prata em campo azul, tendo por diferença uma brica (devida por lhe virem por via feminina) de ouro com uma merleta de azul e por timbre uma serpe verde.

Finalmente, para aumentar mais a confusão, temos as armas novas que o Imperador Carlos V deu ao célebre humanista Damião de Góis, que lhe foram confirmadas por D. Sebastião a 15.8.1567. É que estas armas são exactamente iguais às dos Lemos (cinco cadernas), com a única diferença das cores, que são justamente as atribuídas às armas dos Góis...