Manuel Abranches de Soveral

 

 

 

Casa da Trofa

origens

armas

1º senhor

2º senhor

3º senhor

4º senhor

5º senhor

6º senhor

7º senhor

8º senhor

9º senhor

10º senhor

descendência

sangue real

representação

análise

bibliografia

 

Representação genealógica

A procura da representação genealógica é um exercício meramente académico e desprovido de qualquer utilidade prática, principalmente nos casos em que não está em causa a sucessão em bens ou direitos efectivos. Mesmo durante a Monarquia, nunca em Portugal, fora dos casos apontados, se procedeu oficialmente a semelhante diligência, até porque não constituía qualquer direito nobiliárquico reconhecido.

Pedra de armas do palácio da Calçada da Graça, em Lisboa  (escudo partido de Lemos e Carvalho).

Poderá assim dizer-se que a questão da representação genealógica foi uma invenção dos próprios genealogistas, sobretudo a partir dos finais do século passado, e que não raro conduz à surrealista situação de ser atribuída por esses pesquisadores a representação de uma determinada família a um indivíduo que desconhece em absoluto o seu académico direito a essa representação, não usa os nomes nem tem qualquer bem dessa família e, muitas vezes, mantém sobre toda a questão um absoluto desinteresse. O que não deixa de constituir desprimor para os membros dessa família que efectivamente lhe usam os nomes e/ou se mantêm na posse dos seus bens e direitos mais emblemáticos.

Para dar um exemplo que nos diz respeito a todos, bastaria lembrar que a representação genealógica da Casa Real Portuguesa está hoje no brasileiro senhor D. Pedro de Orléans e Bragança, e que a representação genealógica da varonia está no norte-americano John of Bragança...

Apesar deste preâmbulo, não deixaremos aqui de analisar brevemente a questão da representação genealógica da Casa da Trofa, até porque a sua determinação se revela um intrincado problema, aliás nada pacífico. Na verdade, podemos desde logo aqui isolar três tipos diferentes de representação genealógica, que conduzem a indivíduos distintos: a representação da família, a representação do senhorio e a representação da varonia.

Começando pela última, convém antes do mais definir que se trata de uma representação que só passa por homem e, dentro destes, na linha mais próxima da primogenitura. Dizendo também que a velha varonia Lemos se extinguira no século XVII, passando os Senhores da Trofa a deter a varonia Vasconcellos a partir do casamento da herdeira D. Jerónima de Lemos com Jerónimo de Carvalho e Vasconcellos, pais do 8º senhor da Trofa.

Desde logo, verifica-se aqui a extinção da descendência masculina do 9º senhor da Trofa com o falecimento, sem descendência, de seu filho o 10º senhor da Trofa, que aliás conduziu à extinção do Senhorio. Uma vez que o outro irmão do 10º senhor não teve filhos, a representação da varonia passaria assim para a descendência do filho 2º dos 8ºs senhores da Trofa, o Ten-Cor. José de Souza de Menezes e Lemos. Mas verificamos que também aqui a descendência masculina se extinguiu em seu bisneto Caetano da Rocha de Sá e Câmara de Menezes de Lemos e Carvalho, moço fidalgo da Casa Real, senhor do palácio de S. Pedro, em Angra, etc., que faleceu solteiro, se bem que com geração ilegítima.

Em Portugal, no entanto, distingue-se a representação da varonia, que evidentemente só passa por homem, da representação genealógica da família. E esta pode, à falta de sucessor masculino directo, passar por filha. Por exemplo: se determinado representante não tiver filhos homens, a representação passa não para seu irmão mas sim para sua filha. Trata-se, portanto, de um regime misto, adoptado em Portugal, a pedido do Braço da Nobreza, nas Cortes de 1641, e que desde então passou a privilegiar as linhas descendentes, mesmo femininas, sobre as laterais que mantinham a varonia. Tratou-se de um arranjo esquisito, destinado a manter os bens no mesmo grupo restrito e a «fabricar» herdeiras que, por casamento, pudessem fundir as casas dos Grandes do Reino, em grande parte dos casos enterradas em dívidas. 

Temos, assim, que a representação genealógica desta família acaba por passar para a descendência da irmã mais velha do 10º senhor da Trofa, D.Joana Rita Joaquina de Menezes de Lemos e Carvalho, nascida a 8.9.1724 no palácio da Calçada da Graça, em Lisboa, que esteve recolhida no Convento de Jesus de Aveiro e veio a casar com Francisco Luiz Pequeno Chaves, fidalgo da Casa Real, coronel de Cavalaria do Regimento de Bragança. Seguindo a linha da primogenitura da descendência legítima deste casal, como se explana na descendência (vide) dos 8ºs senhores da Trofa, vemos que conduz, através de três quebras de varonia, ao Dr. D. Marcus Soares de Albergaria de Noronha da Costa, a quem o Conselho da Nobreza por isso reconheceu a representação do título de conde de Subserra, e é portanto o actual representante genealógico da família.

Finalmente, temos a representação genealógica do senhorio da Trofa, entendido como o conjunto dos cinco senhorios de juro e herdade que esta Casa detinha. Como determinava a Lei Mental, os bens da Coroa não podiam passar por mulher salvo no caso do Rei entender que, à falta de descendência masculina, esses senhorios podiam passar por via feminina, quer na pessoa de seu marido quer de seu filho. Tratava-se aqui de uma mercê graciosa, ou seja, dependente da vontade real. Foi o que aconteceu com o 8º senhor da Casa da Trofa, que sucedeu a seu tio materno por vontade real, dizendo o respectivo diploma que el-rei o fazia sucessor em toda a Casa da Trofa.

Com a morte sem geração do 10º senhor da Trofa, já o mesmo não aconteceu, ou seja, não lhe sucedeu imediatamente nem seu sobrinho Manuel de Roxas de Lemos de Carvalho e Vasconcellos (filho de sua irmã, a referida D. Joana Rita Joaquina de Menezes de Lemos e Carvalho casada com Francisco Luiz Pequeno Chaves), nem sua sobrinha D. Isabel Antónia do Carmo de Lemos Roxas e Carvalho e Menezes (filha natural de seu irmão Pedro de Lemos e Roxas, moço fidalgo da Casa Real a 22.1.1735 e cavaleiro professo da Ordem de Malta, tenente-coronel de Cavalaria do regimento de Miranda, etc., que nasceu a 3.9.1727 na Casa da Trofa e faleceu solteiro). Acontece que estes dois sobrinhos casaram um com o outro acabaram por suceder em parte dos senhorios da Casa da Trofa, pois é o Manuel de Roxas de Lemos de Carvalho e Vasconcellos que a 13.7.1803 teve carta de sentença por que se julgou pertencerem-lhe as terras da Trofa e Castrovães (RGM, RC, 1, 16v), a 9.7.1803 teve carta de confirmação da doação do padroado da igreja de Trofa (RGM, RC, 1, 16) e a 4.6.1803 teve confirmação do foral dado ao concelho e vila de Trofa (RGM, RC, 1, 15). Sendo ainda fidalgo da Casa Real, 7º morgado de Lamarosa e, por seu pai, morgado de Bustelo e Adães. Este Manuel faleceu pouco depois, deixando do casamento com sua prima uma única filha, D. Maria Mância de Lemos Roxas e Menezes. Sua viúva, a referida D. Isabel Antónia do Carmo de Lemos Roxas e Carvalho e Menezes, herdeira da quinta de Subserra, em S. João dos Montes, concelho de Vila Franca de Xira, voltou depois a casar, a 19.3.1806, com Manuel Inácio Pamplona Corte Real, e foram os 1ºs condes de Subserra (2.6.1823), título de duas vidas. Como deste 2º casamento não nasceram filhos, seu 2º marido adoptou a enteada, a referida D. Maria Mância de Lemos Roxas e Menezes, senhora das quintas de Subserra e da Bemposta, que casou a 8.5.1822 com seu primo Fradique de Souza e Lemos (trineto dos 8ºs senhores da Trofa), que assim sucederam como 2ºs condes de Subserra (18.3.1825). Mas também este casal não teve filhos, voltando ela a casar a 25.8.1833 com Teodoro Estêvão de La Rue de Saint-Léger, conde de Saint-Léger em França, que em Portugal sucedeu a seu tio materno João Guilherme Hyde de Neuville como 2º conde e depois 2º marquês da Bemposta, por mercês reais de 3.7.1823 e 24.2.1836, respectivamente, foi mestre-sala da Casa Real e ajudante de campo do rei D. Fernando. Deste casamento nasceu uma única filha, D. Maria Isabel Antónia do Carmo de Lemos e Roxas de Carvalho e Menezes de Saint-Léger (1841-1920), que embora os títulos paterno e materno se tivessem acabado, foi feita 1ª marquesa da Bemposta-Subserra e casou (licença real de 11.9.1861) com António de Saldanha de Oliveira Juzarte Figueira e Souza, 4º conde de Rio Maior de juro e herdade, sendo a 19.5.1886 elevados a marqueses de Rio Maior, em sua vida, mas que não tiveram filhos.

Mais tarde, com a morte do referido Manuel de Roxas de Lemos de Carvalho e Vasconcellos, uma neta de uma das irmãs mais novas do 10º e último senhor da Trofa pediu ao rei esse senhorio para seu marido, o Dr. Pedro de Mello Breyner, o que viria a ser concedido. Se bem que também apenas a Trofa, este senhorio foi assim renovado em mais uma vida, pelo que a sua representação genealógica se encontra na descendência primogénita deste casal, ou seja, conforme se explana também na descendência (vide) dos 8ºs senhores da Trofa, na pessoa do Eng. Fernando de Souza Botelho de Albuquerque, conde de Vila Real, Melo e Mangualde.