Ensaio
sobre a origem dos Correa, senhores de Fralães
Séculos
XIV e XV
Escudo
de armas dos Correa (infografia do autor)
Os Correa dos séculos XIV e XV, a começar nos de Fralães, estão nos nobiliários
tardios de tal forma desfasados da realidade que se documenta e respectiva
cronologia, que estas fontes secundárias de pouco ou nada servem para
a reconstituição da sua Genealogia. O que parece ter sido feito pelas
genealogias tardias foi o entroncamento aleatório no conde D. Pedro,
não só de forma infundamentada mas até à revelia da documentação conhecida.
Em contrapartida,
temos a Genealogia dos Correa relativamente bens reconstituída das origens
até ao séc. XIV. Ao inestimável contributo do conde D. Pedro juntou-se
agora a obra de José Augusto de Sotto Mayor Pizarro ,
que nos dá, com a segurança possível, o desenvolvimento da família desde
D. Paio Ramires até meados do séc. XIV.
Sobre a origem
de D. Paio Ramires não se sabe nada de seguro, nem mesmo se já teve
a honra de Fralães.
Esta honra, contudo, parece ser muito antiga. Como já o conde D. Pedro
refere, existia nos seus paços uma pedra onde diz que se podia ler "Elio
Saia era 1004". Mas o certo é que Pizarro não faz qualquer
referência a Fralães, referindo apenas que vários dos Correa tinham
bens no julgado de Faria, assim como nos julgados Vermoim, Panóias e
Aguiar de Pena. Esta última implantação transmontana, como Pizarro salienta,
deve-se à dupla ligação dos Correa aos Guedão/Aguiar, ligação tão importante
que, duas gerações depois da última motiva ainda que Vasco Gomes Correa
use as suas armas rodeadas pelas águias dos Guedão/Aguiar,
conforme a imagem junto (matriz sigilar em bronze de Vasco (Gomes)
Correa) .
Mas não há
dúvida de que os Correa possuíam desde os seus primórdios a honra de
Fralães, no julgado de Faria, pois nas inquirições de D. Afonso III
documenta-se que D. Paio Soares Correa tinha de seus antepassados a
dita honra e o padroado das igrejas de S. Pedro do Monte e S. Maria de Viatodos,
e que nestas freguesias (então do julgado de Faria, hoje do concelho
de Barcelos) o rei só tinha parte do reguengo do Monte de Saia e o reguengo na veiga do Olho Marinho. Nas inquirições de D. Dinis (1288-91)
já aparece a freguesia de Stª Maria de "Farlães", no
julgado de Faria, dizendo-se que "o paaço que foy de dom Paay
Correa o Velho he provoado que o virom honrrado des que se acordam as
testemunhas e d'ouvida de longo tenpo". Sobre a freguesia de
Viatodos ("Sancta Maria de Veatodos") dizem essas
inquirições que "a vila d'Ulvar he provado que he toda honrra
e d'ouvida que foy de do Meem Correa e ora de seu linhajem".
Nas inquirições de D. Dinis são ainda referidas,
junto a Fralães e Viatodos, a honra que Paio Correa tinha na
freguesia de "Sam Fiiz de Gondoffelo" (S. Félix
de Gondifelos), a quintã da Pousada, honra antiga, que Gonçalo
Correa tinha na freguesia da Carreira, a casa de Lousadela, na freguesia
de Balazar, que foi de Soeiro Correa (depois Lousadelo, o lugar de Balasar
que deu o primitivo nome à freguesia: Stª Eulália
de Lousadelo), e o lugar de Vicente, na freguesia de Stª Marinha
de Vicente, que era honra velha dos "Correiãos",
bem assim como "Sam Salvador de Grissoffy" (S. Salvador
de Gresufes, mais tarde anexada a Stª Eulália de Balasar),
"que os Correiãos trajem toda a freeguisia por honrra
des que se acordam as testemunhas".
Mas se com
D. Afonso III só se fala na freguesia de S. Pedro do Monte e com D.
Dinis já se fala também na freguesia de Stª Mª de Fralães, em
meados do século XIV volta a referir-se apenas a freguesia de S. Pedro
do Monte, quando estes Correa juntaram à posse dessas honras o senhorio
de juro e herdade das freguesias de Viatodos (Beatodos) e de S. Pedro
do Monte, bem como os casais de Vila Meã, com suas jurisdições. A honra
de Fralães, claramente o núcleo fundiário original da família e o mais
simbólico, ficava então na freguesia de S. Pedro do Monte, que a breve
trecho se passa a chamar S. Pedro do Monte de Fralães e hoje
apenas Monte de Fralães. E o nome de Fralães acabou por se estender
a todo aquele senhorio, vindo mais tarde a ser criado o concelho de
Fralães, extinto em 1836, que justamente incluía as freguesias de S.
Pedro do Monte, Viatodos e parte da antiga freguesia de S. Salvador
de Silveiros.
As genealogias
posteriores, como já referimos, tentaram entroncar os Correa do século
XIV no ponto em que o conde D. Pedro os deixara, mas fizeram-no da forma
mais desastrosa. Assim, Alão (e com ele Gaio) confunde Afonso Vasques
Correa com Afonso Pais Correa, fazendo este último pai de Fernando Afonso
Correa. Ora, com refere o conde D. Pedro, Afonso Paes Correa morreu
na lide de Fornos de Algodres. Este Afonso Paes, já cavaleiro em 1287,
diz Pizarro que não deve ter tido descendência, tendo em conta que não
são referidos filhos dele nem quando Margarida Pires Ribeiro deixa por
sua alma um cálice de prata a S. Silvestre da Silva, no seu testamento
de Fevereiro de 1317, nem quando Martim Pires de Alvim, marido daquela
Margarida e testamenteiro de Afonso Correa, no seu testamento de 1327
deixa legados pios por alma deste Afonso. Mais significativo, ainda,
é que João Pires de Alvim, filho daqueles Martim e Margarida, em 1355
manda vender os bens que Afonso Paes Correa tinha na Covilhã, como ele
mandara no seu testamento e ainda não tinha sido feito. Nada disto,
com efeito, se coaduna minimamente com a ideia de que este Afonso Paes
tivesse tido filhos, ou pelo menos filhos que lhe sobreviveram e/ou
deixaram descendência. Por outro lado, o Fernando Afonso Correa documentado
em Grijó (1365), com sua mulher e uma filha, não pode ser o homónimo
que em 1385 sucedeu nos senhorios a seu pai Afonso Correa. Alão não
só confunde estes dois Fernandos, como anacronicamente dá este último
como filho de Afonso Paes Correa.
Na verdade,
existiram na passagem do séc. XIII para o XIV pelo menos dois Afonsos
Correa: o referido Afonso Paes Correa, morto na lide de Fornos de Algodres,
e seu primo, de uma geração abaixo, Afonso Vasques Correa, filho do
já referido Vasco Gomes Correa, o da matriz sigilar. Pizarro dá a este
último, Afonso Vasques Correa, vários filhos. Mas há um grande desfasamento
cronológico em relação a pelo menos um deles. Com efeito, Frei Pedro
Afonso Correa, que já era comendador de Alvalade na Ordem de Santiago
em 1319, devia ser de facto filho de Afonso Paes Correa e não de Afonso
Vasques Correa, e ter falecido pelo menos antes de 1355, de qualquer
forma sem geração. Portanto, Afonso Vasques Correa, vassalo do rei em
1328 e meirinho-mor de Além-Douro em 1331, não terá nascido antes de
1280, sendo portanto bem mais novo do que Afonso Paes Correa, se bem
que seu contemporâneo, como aliás resulta do facto de este ser neto
de Pedro Paes Correa, e aquele ser seu bisneto.
Acresce que
entre os filhos de Vasco Afonso Correa apenas dois se contam como naturais
de Mancelos, em 1339, ao contrário dos outros filhos. Este facto só
se pode explicar se Afonso Vasques Correa tivesse casado duas vezes,
vindo aos filhos o direito ao padroado de Mancelos pela mãe. Ora, sabemos
que Afonso Vasques Correa casou com Tereza Martins, da linhagem dos
Portocarreiro, justamente padroeiros de Mancelos. Pelo que esta seria
a mãe dos dois filhos que se documentam na lista de Mancelos, enquanto
os outros filhos de Afonso Vasques Correa seriam de uma mulher anterior,
cujo nome se desconhece.
Assim, ou porque
se extinguiu, como parece, a descendência varonil dos irmãos João Pires,
Martim Pires e Paio Pires Correa,
ou por qualquer outra razão, o bem mais emblemático da família, ou seja,
a honra de Fralães (S. Pedro do Monte e Viatodos), acabou na posse de
Afonso Vasques Correa, o neto sucessor de Gomes Pires Correa, irmão
daqueles. E deste Afonso Vasques Correa foi filho sucessor o Vasco (Afonso)
Correa que Fernão Lopes diz pai de outro Afonso Vasques Correa, sendo
este, falecido em 1385, o mais antigo senhor de juro e herdade das freguesias
de Viatodos e S. Pedro do Monte que se documenta e o tronco dos senhores
de Fralães do séc. XV.
Finalmente,
umas palavras sobre as suas armas, um escudo de ouro, fretado de vermelho,
de oito peças, conforme a infografia que publico. Esta é a verdadeira
heráldica dos Correa, como se vê nomeadamente na referida matriz sigilar.
Fretado é um termo heráldico que significa a disposição de coticas entrelaçadas
em diagonal, em banda e contrabanda, em número igual para cada lado.
O fretado pode ter quatro, seis ou oito coticas. Se forem dez ou mais,
diz-se já gradeado e não fretado. O Livro da Nobreza e Perfeição
das Armas atribui-lhes 12 peças, o que significa que já não era
um fretado mas sim um gradeado. O Livro do Armeiro Mor atribui-lhes
13 peças, o que é um flagrante erro heráldico, pois quer no fretado
quer no gradeado as coticas têm de ser em número par, uma vez que são
sempre metade em banda e a outra metade em contrabanda. O que constitui
mais um exemplo da deplorável reforma manuelina da Heráldica portuguesa.
E a confusão continua com os não menos ignorantes reis de armas portugueses,
que foram passando cartas de armas de Correa onde em geral não especificavam
o número de coticas do fretado. E, quando o faziam, diziam-no de seis
peças (e até sete!), especificando que eram três em banda e três em
contrabanda, como se pudesse ser de outra forma... Na verdade, como
vimos, o fretado dos Correa era de oito peças. Mas, em dada altura (século
XVI ou depois), os senhores de Fralães adoptaram definitivamente a águia
estendida dos Aguiar, que já está em redor do seu escudo na referida
matriz sigilar, colocando as armas dos Correa carregadas no peito da
águia. E deve ter sido nesta nova disposição que, devido ao tamanho
reduzido do escudo (algumas cartas de armas dizem "um escudinho"...),
por razões práticas o fretado passou de oito para seis peças. Mas, a
aceitar esta alteração, ela não tem obviamente efeitos retroactivos
e só se pode usar nestas armas alteradas.
Esquema
genealógico
1. Afonso Vasques Correa,
cavaleiro quando em 1318 foi testamenteiro de seu primo Gonçalo Anes
Correa (legitimado a 5.3.1298, filho de Gonçalo Anes Correa e neto de
João Pires Correa). Vassalo do rei em 1328, quando foi um dos fidalgos
fiadores do acordo com D. Alfonso XI. Era meirinho-mor de Além Douro
em 1331. Nasceu cerca de 1280 e faleceu depois de 1332. Seria o principal
herdeiro das honras de Fralães e Viatodos, sendo filho de Vasco
Gomes Correa, o da matriz sigilar, como ficou dito na introdução. Como
igualmente ficou dito, necessariamente Afonso Vasques casou a 1ª vez
com mulher (a) que se desconhece. E casou 2ª vez com Tereza
Martins “Raimundinho” (b), neta paterna de João Raimundes
de Portocarreiro, alcaide-mor de Lisboa em 1278.
1.1. (a) Gonçalo Afonso Correa, sem geração.
1.2. (a) Filha, casada com Martim Feriz.
1.3. (a) Filha, casada com Pedro Afonso, sobrinho do bispo de Coimbra
D. Raymond, francês.
1.4. (a) Vasco (Afonso) Correa, que segue no nº 2.
1.5. (a) Fernando Afonso Correa, que vem referido como infanção na lista
de Grijó (1365), com sua mulher Leonor Anes da Cunha, de quem
vinha o padroado, com uma filha, não nomeada, pelo que provavelmente
era criança pequena. Leonor Anes documenta-se aí como filha de João
da Cunha, então já falecido.
1.5.1. Violante
da Cunha,
nascida cerca de 1364, que casou cerca de 1388 com Martim
Ferreira,
morgado do Casal de Cavaleiros, de Cête e de Fajozes, e senhor de juro
e herdade de Parada (20.8.1384). Com geração.
1.6. (a) Diogo Afonso Correa, que proponho como filho do 1º casamento de
Afonso Vasques Correa. Era escudeiro quando na mesma data (20.3.1384)
da mercê de Afonso Vasques Correa, seu proposto sobrinho, teve do mestre
de Avis os direitos reais de Monforte, de juro e herdade, e os bens
móveis e de raiz que em Monforte tinham Martim e Álvaro Lourenço, que
andavam "em deserujco". A 5.5.1384 o mestre de Avis
doou a Diogo Afonso Correa, seu vassalo, todos os bens móveis e de raiz
que em Santarém tinha Francisco Anes, que andava "em deserujco".
Era comendador na Beira em 1389.
1.7. (a) D. Afonso Correa, possível filho de Afonso Vasques Correa. Morreu
bispo de Segóvia a 15.5.1397. Nasceu cerca de 1318, doutorou-se em Cânones
pela Universidade de Paris, foi cónego de Sé de Lisboa e chanceler da
infanta D. Beatriz. Passou depois a Roma, onde Urbano V o nomeou auditor
da Rota e Câmara Apostólica e depois bispo da Guarda, onde já estava
a 24.2.1368. Foi também embaixador de D. Fernando a Castela. Em 1384
opôs-se ao mestre de Avis e depois de Aljubarrota foi para Castela,
onde morreu bispo de Segóvia.
1.8. (a) João Correa, como propõe Pizarro, que foi corregedor de Entre-Tejo-e-Guadiana
no reinado de D. Pedro I e terá n. cerca de 1319. Julgo que este
é o João Correa que casou com Maria Vasques e
que depois de viúvo, já no fim da vida, foi frade de S.
Domingos de Lisboa, tendo deixado ao mosteiro de Odivelas a sua quinta
da Barrosa, a par do Lumiar. Com efeito, a 7.11.1435 D. Duarte julgou
um pleito entre Henrique de Góis e o mosteiro de Odivelas, entregando
a ele a dita quinta da Barrosa, que D. João I doara a seu pai,
João Anes de Góis, pois o dito mosteiro não vendera
a quinta que lhe fora deixada por João Correa no prazo de um
ano, como estava obrigado, “e porque outrossy alguus parentes
do dicto Joham correa que diziam que ella tijnha, dímjtírom
e leixarom todoo seu djreito” ao dito rei D. João
I (CDI, 1, 205v e 206).
1.9. (b) Martim Afonso Correa, nascido cerca de 1321, infanção natural de Mancelos em 1339. Certamente o Martim Correa que em 1383 era alcaide-mor
do castelo da Feira, dando voz por D. Beatriz. E o Martim Correa cujas
terras que "auja e tijnha del rrey dom Fernando" o
mestre de Avis doou a 13.2.1385 a Mem Rodrigues de Vasconcellos. Foi
portanto para Castela.
1.10. (b) Aires Afonso Correa, referido com seu irmão na lista de Mancelos,
nascido cerca de 1322. Foi alcaide-mor de Monforte (23.6.1357) e provável
herdeiro de seu meio-irmão Diogo Afonso. Teve a herdade do Azinhal, nos termos
de Elvas e Monforte, que lhe foi coutada por D. Pedro I, como se diz
na confirmação deste couto a seu filho Gomes Correa, a 7.3.1433, por
D. João I. Deste Gomes foi filho sucessor outro Aires Afonso Correia,
que casou com Maria Ribeiro, sendo pais de João de Freitas Correa, morador
em Monforte, casado com Inez Rodrigues, quando a 6.2.1444 D. Afonso V lhe confirmou o dito couto,
em que sucedeu por morte destes seus pais.
2. Vasco (Afonso) Correa,
referido por Fernão Lopes como pai de Afonso Vasques Correa e fidalgo
de D. Afonso IV e D. Pedro I, pelo que terá nascido cerca de 1307. Pela
cronologia e onomástica, sua e de seu filho, parece filho de Afonso
Vasques Correa e até o seu filho sucessor, na medida em que é na sua
descendência que segue a honra de Fralães. Alão diz que casou com Leonor Mendes de Oliveira, filha de Mem Pires de Oliveira. O
Livro de Linhagens do Séc. XVI diz que este Mem Pires não teve filhos
do seu casamento mas deixou filhos bastardos, entre eles justamente
uma Leonor Mendes, mas que diz ter casado com Pedro Martins Rogueis,
pelo que fica a dúvida. Embora esta Leonor pudesse ter casado duas vezes.
2.1. Afonso Vasques Correa, que segue no nº 3.
3. Afonso Vasques Correa,
que vem referido como escudeiro quando a 20.3.1384, pelos serviços que
fez e os que "entendemos de receber", teve do mestre
de Avis os direitos reais de Abrantes, de juro e herdade. A 9.10.1380
tinha recebido de D. Fernando, em préstimo, a terra de Gondomar, no
almoxarifado do Porto, com todas as suas rendas e direitos. Foi
ainda senhor de juro e herdade das freguesias de Viatodos (Beatodos)
e de S. Pedro do Monte e os casais de Vila Meã, com suas jurisdições,
como se documenta na confirmação a seu filho, em 1385, e de seu neto,
em 1433, vindo aí referido apenas como Afonso Correa. Como se diz na
confirmação a seu neto em 1433, repetindo a do filho, nas ditas freguesias
de S. Pedro do Monte e Viatodos, bem como nos casais de Vila Meã, "quando
se auiam de poer Jujzes no dicto logo que os punha sempre o dicto seu
padre em cada huu anno E que as apellaçoões hiam dos dictos lugares
pêra o dicto seu padre E do dicto seu padre hiam as apellaçoões pêra
a corte dos Reis que entom eram E que os moradores das dictas terras
nom pagauam em fintas nem em talhas com nemhuu concelho". Afonso
Vasques nasceu cerca de 1329 e faleceu antes de 7.10.1385, pois nesta
data lhe sucedeu o filho, tendo sido muito provavelmente morto na batalha
de Aljubarrota (14.8.1385). Alão confunde este Afonso Vasques Correa
com Afonso Paes Correa, o que é um anacronismo, se bem que depois fale
deste Afonso Vasques Correa como pai (natural) de Martim Correa. O Afonso
Correa que dá como pai de Fernando Afonso Correa diz que casou com Beatriz
Martins da Cunha (a) ,
que neste caso teria nascido cerca de 1340/5, pelo que não podia ser
filha de Martim Vasques da Cunha, senhor de Tábua, como diz JT,
não só porque este nasceu cerca 1300 e faleceu pouco antes de 1334,
mas também porque seu filho Vasco e suas duas filhas, Inez e Leonor,
se documentam no respectivo inventário de menores. Mas ao Afonso Vasques
Correa que teve Martim Correa como filho natural dá Alão duas mulheres,
ambas sem geração, a primeira das quais foi Beringela Pereira (b), filha de Rui Pereira, senhor da Terra de Stª Maria,
e de sua mulher Violante Lopes de Albergaria, e a 2ª foi Violante
Vasques de Souza (c), filha de Vasco Martins de
Souza. A existência desta Violante é duvidosa, pois não aparece na lista
de Grijó (1365) com seu alegado pai e irmãos. Se bem que pudesse ser
uma filha do 2º casamento de Vasco Martins de Souza com D. Estevaínha
Garcia, tendo neste caso nascido depois de 1365 e, portanto, casado
pouco antes de seu alegado marido morrer. A 1ª mulher diz Alão que a
casou D. João I, a contragosto dela. Mas Rui Pereira e Violante Lopes
de Albergaria casaram em 1373, pelo que essa Beringela Pereira, se podia
ter casado com Afonso Vasques Correa, não podia ter sido mãe do herdeiro
Fernando Afonso Correa nem de Afonso Vasques. Assim, a mãe destes ou
foi a referida Beatriz Martins da Cunha ou outra que se desconhece e
o possível casamento com Beringela Pereia não deve ter
deixado frutos. Afonso de Torres diz apenas que Afonso (Vasques) Correa
casou com Beatriz Martins, sem a filiar.
3.1. (a) Fernando Afonso Correa, que segue no nº 4.
3.2. (a) Afonso Vasques Correa, que sucedeu ao pai no préstimo da terra de Gondomar, que a 7.12.1388 D.
João I lhe passou a senhorio de juro e herdade, mero e misto império,
com todas as rendas, direitos e pertenças. Diz a doação
que "querendo lhe fazer graça rreceber querendo lho
nos galardoar com mercees como cada huu senhor he theudo de fazer aaquelles
q o bem auem de nossa liure vontade certa scientia poder absoluto lhe
damos de Jur d erdade mero misto Jnperio senhorio a dcta terra do gundumar
com todallas rendas djrtos pteenças que a dcta terra rende per
qualquer gisa diçam que seia". Deve ter sido senhor da Camusca, pois a 22.4.1386
o mesmo rei faz "graça e mercee a afomso uaasquez correa nosso
uasallo por mujto serujço que delle recebemos e entendemos de receber"
de privilegiar todos os moradores do lugar da Chamusca, escudando-os
de servir ao concelho de Santarém ou a outros. E a 27.6.1386 doa-lhe
os bens móveis e de raiz que foram de Samuel Toledano, judeu, bem como
"hua quintaa que chamam dulme". A 18.1.1391 o seu escudeiro
João Afonso teve mercê dos direitos reais de Ponte de Sor. Talvez seja
pai do Vasco Correa que nasceu em 1374 em Ponte de Lima, pois
a 12.10.1444 D. Afonso V privilegiou Vasco Correa, natural de Ponte
de Lima, mudando-lhe o degredo de dois anos na cidade de Ceuta por três
em Marvão, devido à sua idade de 70 anos.
3.3. (N) Martim Correa, segundo Alão, que o diz bastardo, tendo ficado órfão
ainda menino e ter sido criado com o infante D. Pedro, de cuja casa
viria a ser cavaleiro. O infante D. Pedro nasceu em 1392 e este Martim
Correa teria de ter nascido antes de 1385, ano da morte de seu alegado
pai. Diz ainda Alão que esteve com o infante em Alfarrobeira e depois
fugiu para Castela, donde voltou, sendo perdoado por D. Afonso V, que
então lhe deu o prazo da Torre da Murta e o casou com Leonor da Silva,
o que é um evidente anacronismo. Com efeito, o Martim Correa em epígrafe
deve ser o homónimo, cavaleiro do infante D. Pedro, que tinha a comenda
de Aljustrel, a qual por sua morte ficou vaga, tendo-a D. Afonso V passado
a 31.1.1444 a Martim Vasques Mascarenhas, com consentimento de D. Fernão
Martins Mascarenhas, comendador-mor da Ordem de Santiago. Morreu portanto
antes de Alfarrobeira. E deve também ser este o Martim Correa que deixou
viúva Inez Dias, a quem D. Afonso V doou a 17.10.1453 a renda dos moinhos
situados no termo de Penela, na Ribeira de Cabra, e que ainda vivia
a 15.7.1463, quando o mesmo rei concedeu carta de privilégio a Inez
Dias, mulher viúva de Martim Correa, para todos os seus caseiros, mordomos,
apaniguados e lavradores da comarca e correição da Estremadura, isentando-os
do direito de pousada. Este Martim Correa deve ainda ser o que pediu
e obteve para seu primo (certamente pelo lado da mãe) Diogo Álvares,
escudeiro, morador na vila de Aljustrel, o cargo de coudel da dita vila
e seu termo, para que foi nomeado a 16.2.1439.
3.3.1. Martim Correa, nascido cerca de 1400, claramente distinto
e posterior ao que leva por pai. Alão deve ter confundido os dois num
só, pelo que algumas coisas que diz do pai poderão aplicar-se a este.
É o Martim Correa, cavaleiro do infante D. Henrique, que a 20.5.1452
teve do rei uma tença anual de 8.000 reais de prata, a juntar à tença
de 4.000 reais que já usufruía. E foi alcaide-mor de Silves, como veremos
adiante. Este Martim é que teve a Torre da Murta (25.3.1461) e casou
com Leonor da Silva, natural da Madeira, donzela da rainha e
filha de um Fernão Martins do Carvalhal, segundo o LLXI e Damião de
Góis. Segundo Alão, o rei deu-lhe em casamento Leonor da Silva, que
então estava enamorada de Nuno Furtado de Mendonça, o qual avisou Martim
Correa que se aceitasse esse casamento "lhe havia de por os
cornos". Acrescenta aquele autor que Martim Correa aceitou
o casamento por causa da ameaça e levou a mulher para a Torre da Murta,
onde a acoitou, avisou da ameaça do namorado e viveram "com
grandes desgostos", vindo Martim Correa a morrer no escalamento
de Tânger, após o que Leonor da Silva casou com o dito Nuno Furtado
de Mendonça. E isto é certo, pois a 18.7.1476 D. Afonso V doou a Leonor
da Silva, viúva de Nuno Furtado, que fora aposentador-mor, as tenças
anuais que estão assentes no almoxarifado de Santarém. E a 21.3.1513 Leonor da Silva, mãe de
Henrique Correa, fidalgo da Casa Real, fez procuração a Diogo Afonso,
seu escudeiro, para poder arrecadar do almoxarife de Aveiro 14.933 reais
que tem por desembargo. Pela cronologia envolvente, Leonor da Silva,
que nasceu cerca de 1430 e, como vimos, ainda vivia em 1513, casou com
Nuno Furtado cerca de 1462, e seguramente antes de 1464, pelo que Martim
Correa terá morrido em meados ou finais de 1461. Também não existe carta
de perdão pela sua alegada participação em Alfarrobeira. Pelo contrário,
terá recebido bens de partidários de D. Pedro que estiveram nesta batalha,
segundo a Monumenta Henricina. Alão só lhe nomeia um filho,
o antedito Henrique Correa da Silva, que terá nascido cerca de 1445
e foi do Conselho de D. Manuel I, com geração nos Correa da Silva, alcaides-mores
de Tavira. A 29.8.1464 Henrique Correa, cavaleiro do infante D. Henrique
e fidalgo da Casa Real, teve o castelo e direitos de Silves, bem como
as rendas da mouraria, com os 2.000 reais que pagam os mouros da cidade,
e ainda as rendas do mordomado e do relego, tudo como tinha seu pai,
como se diz numa carta de confirmação de 5.3.1486. É ainda o Henrique
Correa, fidalgo da Casa Real, que a 10.10.1496 teve uma tença de 30.000
reais de D. Manuel I, e dois meses depois 300.000 reais em satisfação
das rendas da mouraria de Silves, e ainda várias outras mercês.
4. Fernando
Afonso Correa,
do Conselho de D. João I, senhor de juro e herdade as freguesias de
Viatodos e de S. Pedro do Monte e os casais de Vila Meã, com suas jurisdições,
em sucessão a seu pai Afonso Correa (7.10.1385), isto é, como vimos,
senhor de Fralães. Foi ainda senhor de juro e herdade de Valadares e
de Riba de Mouro (21.8.1387) e a 23.1.1387 teve a doação da honra de
Lanhas, que era de Diogo Afonso, que andava em deserviço, o qual a herdara
de sua tia Leonor Afonso, aia que foi do infante D. Dinis. Diz o rei
na carta de doação de Valadades: "Dom Joham etc A quantos esta
carta virem fazemos saber que nos veendo e considerando os mujtos serujços
que nos e estes regnos recebemos e entendemos receber ao diante de fernand
afomso correa nosso uasallo portador desta carta E querendo lho nos
galardoar com mercees o que boom rey e senhor eue fazer a boom serujdor
damos lhe de Jur d erdade deste dia pera todo sempre toda a terra de
ualadares e de Riba de mouro per a guisa que a tragia steu eannes marinho
d el rrey dom fernando nosso Irmaão que deus perdoe com todollos djreitos
fructos novos e foros que o dicto rey e os que ante elle foram aujam
e nos de djreito deuemos d'auer das dictas terras com suas Jurdiçoões
Reseruando pera nos as apellaçoões e agravos E que o nosso Corregedor
ou corregedores possam fazer correiçam". Fernando Afonso nasceu
cerca de 1351 e fez testamento a 9.5.1405, onde instituiu a capela de S. Francisco de Guimarães, para
a qual foi depois trasladado. Segundo Afonso de Torres, casou com Joana
Anes, filha de João da Cunha. Segundo Alão, casou com Leonor Rodrigues,
que a CP diz ter sido filha de Nuno da Cunha, o que além do mais é
um anacronismo. Como direi adiante, o filho sucessor Gonçalo
Correa trocou com o rei Valadades por Cunha-a-Velha. A honra de Cunha-a-Velha
foi perdida para a coroa por Martim Vasques da Cunha quando foi para
Castela. Mas era o original solar da linhagem dos Cunha, com todo o
seu valor simbólico. Não é portanto de estranhar
que Gonçalo Correa, sendo filho de uma Cunha, tenha feito esta
troca, sendo porventura mais estranho que seu filho homónimo
a tenha vendido. Tendo em conta a cronologia (Leonor Rodrigues terá
nascido entre 1360 e 1367) e o patronímico, julgo que Leonor
Rodrigues seria sobrinha ou sobrinha-neta da Leonor Anes da Cunha (filha
de João Rodrigues da Cunha) que casou com Fernando Afonso Correa,
tio-avô homónimo do Fernando Afonso Correa em epígrafe.
4.1. Paio Correa, referido na confirmação de 1433 a seu irmão
Gonçalo Correa, onde se diz que este houvera a dita terra "depois
da morte do dicto seu padre e payo correa seu Jrmaão". Faleceu
portanto em 1433, sem geração, ao que se conclui.
4.2. Gonçalo Correa, que segue no nº 5.
4.3. Frei João Correa, nascido cerca de 1382, que é geralmente confundido
com seu sobrinho homónimo, referido adiante. Foi comendador de
S. Miguel de Poiares, com suas anexas de Freixiel e Abreiro, de Stª
Mª de Vera Cruz de Marmelar, com sua anexa de Aboim, de Belver
e possivelmente ainda de Algoso, em que terá sucedido ao irmão
Aires. Este é o João Correa, cavaleiro, comendador de Poiares e Santa
Maria, como em 1423 é referido na legitimação do filho Gomes. E o João
Correa, comendador de Belver, cujo criado, Vasco Dias, foi nomeado a
16.10.1446 para o cargo de tabelião do cível e crime de
Cortiçada Belver, [Enendos], Carvoveiro e de Bicheira. Além
do filho legitimado (o único que não foi freire), foram
certamente seus filhos:
4.3.1. (N) Frei Paio Correa, comendador de S. Miguel de Poiares, com suas anexas de Freixiel e Abreiro. A 14.1.1462 D. Afonso V doou a Frei Paio
Correa, comendador de Poiares, os bens móveis e de raiz que pertenciam
a Afonso Vasques [Moszito], morador no Crato, que os perdera por ter
feito contrabando de carneiros e gados para Castela.
4.3.2. (N) Frei Gonçalo Correa, comendador de Algoso, em que sucedeu ao
pai ou ao tio Aires Correa, e de Aboim A 27.4.1469 D. Afonso V privilegiou
Frei Gonçalo Correa, comendador de Algoso e Aboim, coutando-lhe
as perdizes e lebres a meia légua em redor do castelo da sua
comenda, bem como o pescado a meia légua da ribeira, pagando
os prevaricadores 200 reais para as obras do castelo e perdendo tudo
o que caçaram e pescaram. A 15.3.1471 o mesmo rei concedeu carta
de privilégio a Frei Gonçalo Correa, comendador de Algoso,
para todos os seus mordomos, caseiros, apaniguado, lavradores e criados
da comarca e correição de Trás-os-Montes.
4.3.3. (N) Frei Fernão Correa, cavaleiro da Ordem de S. João,
comendador de Algoso, de Stª Mª de Vera Cruz de Marmelar,
com sua enexa de Aboim, e de S. Miguel de Poiares, com suas anexas de
Freixiel e Abreiro. Foi ainda comendador de Torres Vedras e Landal.
A 9.9.1469 D. Afonso V nomeou por três anos Vasco Fernandes, escudeiro
de Frei Fernando Correa, comendador de Freixiel, Poiares, Abreiro e
Landal e para o cargo de coudel destes lugares e seus termos, que se
encontrava vago. A 4.1.1473 o mesmo rei concedeu carta de privilégio
de fidalgo a Frei Fernando Correia, comendador de Algoso, com cláusula
de aposentadoria, para todos os seus criados, mordomos e apaniguados
para a comarca de Trás-os-Montes. A 8.2.1471 privilegiou Frei
Fernão Correia, comendador de Stª Vera Cruz, concedendo-lhe
licença para poder dar em sesmaria as terras, herdades, pardieiros,
vinhas e casas suas e da Ordem, que não se encontravam aproveitadas,
contanto que mande apregoar pelos concelhos e praças da comarca
para que sejam aproveitadas. E a 12.2.1471 privilegiou Fernão
Correia, cavaleiro da Ordem de S. João e comendador da Igreja
de S. João da vila de Torres Vedras, proibindo que qualquer pessoa
de qualquer estado e condição pousasse nas casas da referida
ordem e comenda, sob pena de pagarem 1.000 reais para os cativos.
4.3.4. (N) Frei Pedro Correa, nascido cerca de 1410, que
era comendador de Óbidos e Alenquer
quando a 3.10.1461 D. Afonso V lhe aforou uma herdade de pão
na vila de Alenquer, pelo foro anual de 25 alqueires.
4.3.5. (N) Isabel Correa, nascida
cerca de 1412, que a 13.5.1442 se documenta como mulher de Fernão
Rodrigues (Barba), alcaide de Leiria e Óbidos, vassalo de
D. Afonso V e escudeiro do infante D. Pedro. C.g.
4.3.6. (L) Gomes Correa, legitimado por carta real de 5.1.1424,
onde vem referido como criado do conde D. Afonso, filho d'el rei, portanto
o futuro duque de Bragança, sendo filho de João Correa, cavaleiro, comendador
de Poiares e Stª Maria, e de Senhorinha Martins, mulher solteira. Gomes
Correa foi comendador de Poiares, Aboim e Algoso. A 2.8.1441 D. Afonso
V nomeou por 5 anos Gomes Correa para o cargo de coudel em Poiares,
Aboim, Algoso e outros lugares das suas comendas. É provavelmente o
Gomes Correa casado com Leonor Rodrigues, com os seguintes filhos
nascidos em S. Miguel de Poiares:
4.3.6.1. Paio Correa, n. cerca de 1446, que tirou ordens menores a 21.9.1454
em Braga. É certamente o Frei Paio Correa que em 1462 era comendador de
Amieira e que foi também comendador de Poiares, Freixiel e Landal.
A 18.6.1502 foi legitimada por carta real Guiomar, filha Frei Paio Correa,
já finado, e de Branca Dias, viúva (não diz de
quem) moradora na vila de Amieira. Trata-se certamente deste Frei Paio
Correa, comendador de Amieira. E a filha é certamente a Guiomar
Correa que casou com Nuno Cardoso, morgado da Taipa (Lamego), que as
genealogias tardias confundem com a D. Guiomar Correa, filha de Frei
Paio Correa, bailio de Leça, referida adiante, que era anterior
e casou com D. Sancho de Noronha. Com efeito, aquela Guiomar Correa
vivia viúva em 1552 na quinta da Taipa, como se documenta, pelo
que não pode ser a homónima que casou cerca de 1490 com
D. Sancho de Noronha.
4.3.6.2. Martim Correa, que tirou ordens menores em Braga a 21.9.1454.
4.4. Beatriz Correa, nascida cerca de 1383, que casou cerca
de 1397 com Gonçalo Fernandes Barbosa, senhor do paço e honra
de Aborim, em Quintiães (Barcelos), e do couto de Brandara, em Ponte
de Lima (na imagem: escudo de armas dos Barbosa - infografia do
autor). Na instituição do morgadio de Aborim, seu neto Álvaro Barbosa
diz que
Gonçalo Fernandes Barbosa era "homem honrado tam possante que
tinha desouto a vinte de cavallo e com tanto serviu continuadamente
elRei Don Joam na Batalha Real e outros lugares de cavalaria",
e que dele ficaram cinco filhos e três bastardos, sendo seu filho primogénito
Fernão Gonçalves Barbosa, de quem era filho maior o instituidor. Alão
diz que em poder do Doutor Francisco Montarroio estava uma provisão
de 1438 onde se documentava que Fernão Gonçalves Barbosa era filho de
Gonçalo Fernandes Barbosa, senhor do couto de Brandara, neto de Chamoa
Martins e bisneto de Alda Esteves, senhoras do dito couro e sua jurisdição.
Trata-se portanto do mesmo documento a que se refere Gaio, dizendo que
foi feito a 14.2.1438 na vila de Ponte do Lima, sendo juiz Aires de
Magalhães e escrivão Fernão Lourenço, onde se apresentava uma carta
de D. Duarte com selo redondo, assinada por Afonso Giraldes e Luiz Martins,
ouvidores de do rei, onde constava que Fernão Gonçalves Barbosa era
sobrinho de João da Mota e Álvaro da Mota, criados do rei D. Duarte,
filhos Pedro Fernandes de Barbosa e sua mulher D. Chamoa Martins de
Aborim, irmã de D. Alda Martins, chamadas as ricas-donas de Aborim.
Daqui se concluem várias coisas, desde logo que Gonçalo Fernandes Barbosa
já tinha falecido em 1438 e que pelo menos a honra de Aborim e o couto
de lhe vinha por sua mãe, Chamoa Martins, que Gaio diz filha Rui Lourenço
de Aborim, senhor da dita honra, e sua mulher Alda Martins, senhora
do couto de Brandara, que já fora de seu avô Rui Fernandes da Mota.
Aquele João da Mota, irmão de Gonçalo Fernandes Barbosa, deve ser o
João da Mota que perdeu os seus bens por não ter apoiado o mestre de
Avis, que a 26.6.1384 deu a Vasco Martins, seu escudeiro, todos os bens
móveis e de raiz que João da Mota havia em Óbidos e seu termo e em qualquer
outra parte destes reinos. Seu irmão Afonso da Mota, que poderia ter
nascido cerca de 1390, talvez ainda possa ser o Frei Afonso da Mota,
mestre de Teologia, que a 30.9.1450 foi reitor "do estudo na
cidade de Coimbra". Aquele Rui Lourenço de Aborim diz Gaio
que foi filho de Lourenço Fernandes de Aboim e neto do Fernão Silvestre
de que fala o conde D. Pedro. A filiação daquele Pedro Fernandes de Barbosa, casado com D. Chamoa
Martins de Aborim, não se sabe, sendo contudo de suspeitar que fosse
filho do Fernão Martins de Barbosa que Alão dá por pai de Gonçalo Fernandes Barbosa. Alão, seguindo
o conde D. Pedro, engana-se e dá este Fernão Martins como filho de Martim
Barbosa, o Moço, quando de facto era seu irmão, ambos filhos de outro
Martim Barbosa, o Velho. Fernão Martins de Barbosa, como se pode ver
em Pizarro (LM), em 1311 testemunha uma outorga dada por seus pais a
uma doação feita por seu avô materno e já se documenta casado com Mor
Aires de Toroselho em 1324, mas casou antes, e em 1355 teve sentença
para pagar 350 libras ao mosteiro de Arouca pelo escambo da quintã de
Canelas. Na lista de Vilar de Porcos (1329) seu pai aparece referido
com seus filhos Fernão, Sancho, Nuno, Martim e Sancha, sendo Fernão
referido como tendo três filhos, não nomeados. Destes seus três filhos,
Pizarro identifica dois: Alda Fernandes de Barbosa, que em 1331 era
freira em Stª Clara de Coimbra, e Senhorinha Fernandes de Barbosa (já
casada em 1348 com um Martim Esteves). O terceiro filho poderia ter-se
chamado justamente Pedro Fernandes de Barbosa, nascido entre 1320 e
1330, sendo o pai de Gonçalo Fernandes Barbosa, nascido entre 1360 e
1370.
4.4.1. Fernão Gonçalves Barbosa, nascido cerca de 1398 e falecido cerca
de 1478, senhor do paço e honra de Aborim, em Quintiães (Barcelos),
e do couto de Brandara, em Ponte de Lima. Gaio diz que esteve em Alfarrobeira
pelo infante D. Pedro, mas não há notícia disso, salvo se é o Fernão
Gonçalves, escudeiro, criado do infante D. Pedro, a quem D. Afonso V
perdoou a 2.5.1455 o ter estado na batalha de Alfarrobeira ao lado do
dito infante. Na instituição do morgadio de Aborim, seu
filho Álvaro Barbosa diz que seu pai, Fernão Gonçalves
Barbosa, "ficou mais delgado de fazenda que não serviu
salvo com sinco ou seis, e por seeu falecimento elle Alvaro Barbosa
que era seu filho maior partiu com sinco outros irmãos que lhe
não ficou por onde podesse servir com dous". Casou
cerca de 1441 com Leonor Vaz Malheiro, n. cerca de 1428, filha
de Vasco Afonso Malheiro, escudeiro da Casa do infante D. Pedro e senhor
da torre de Refoios (do Lima), e de sua mulher Beatriz Anes (ver o meu
estudo "Reflexões sobre a origem dos Rocha, dos Aguiã,
dos Calheiros e dos Jácome"). Documenta-se que Fernão
Gonçalves Barbosa teve seis filhos, mas só consegui encontrar
seguros cinco.
4.4.1.1. Álvaro Barbosa, nascido cerca de 1442 e fal. depois de
1500, 1º morgado de Aborim (25.8.1478). Como Álvaro Fernandes,
filho de Fernão Gonçalves Barbosa e sue mulher Leonor
Vasques, da freguesia de Stª Mª de Quintiães, tirou
ordens menores em Braga a 19.3.1451. Deve ser o Álvaro Barbosa, escudeiro de D. Álvaro, a quem D. Afonso V doou em Zamora,
a 25.10.1475, o serviço novo e velho dos judeus de Ponte de Lima e Barcelos.
Casou com Maria Gonçalves Maciel,
com geração nesta Casa. O
morgadio de Aborim foi instituído por Álvaro Barbosa e sua mulher D.
Maria Gonçalves em Ponte de Lima, ainda não tinham filhos, ao que tudo
indica logo após a morte do pai dele. Álvaro Barbosa é aí referido
como escudeiro fidalgo e morador no julgado de Aguiar de Neiva, termo
de Barcelos. O morgadio tinha cabeça na sua quintã de Aborim, na freguesia
de Quintiães, termo de Barcelos, que ele tinha de sua avoenga. Refere
a instituição que Álvaro Barbosa era neto de Gonçalo Fernandes Barbosa,
"homem honrado tam possante que tinha desouto a vinte de cavallo
e com tanto serviu continuadamente elRei Don Joam na Batalha Real e
outros lugares de cavalaria", e que dele ficaram cinco filhos
e três bastardos, sendo seu filho primogénito Fernão Gonçalves Barbosa,
de quem era filho maior o instituidor. Acrescenta que seu pai, o dito
Fernão Gonçalves Barbosa, "ficou mais delgado de fazenda que
não serviu salvo com sinco ou seis, e por seeu falecimento elle Alvaro
Barbosa que era seu filho maior partiu com sinco outros irmãos que lhe
não ficou por onde podesse servir com dous". E por isso instituía
o morgadio, "hora que a Deus aprouve de lhe dar alguma fazenda
e disposição para a ter e haver por conservar sua possante linhagem
e Fidalguia e ficar e andar unida para milhor poder servir a Coroa Real".
4.4.1.3. Gonçalo Fernandes Barbosa, falecido solteiro sem geração.
4.4.1.2. Pedro Barbosa, nascido cerca de 1452, que tirou ordens
menores em Chaves a 29.6.1461, onde vem como filho de Fernão Gonçalves
Barbosa e sua mulher Leonor Vaz, moradores em Quintiães (Paço de Aborim).
Era portanto filho legítimo e não bastardo, como vagamente
supõe Gaio e algumas genealogias modernas continuam a copiar,
sem investigar. Alão não o refere. Casou com Leonor
Lobo, dama da duquesa de Bragança, irmã de Fernão Lobo, escudeiro
conde de Vila Real, que foi coudel de Vila Real a 6.7.1473 (teria 18
anos) em substituição Lopo Martins da Mesquita, que morrera, por apresentação
do conde de Vila Real. Como refiro no meu Ensaio
sobre a origem dos Mesquita, este Fernão Lobo casou com Maria
Lourenço, já viúva de Luiz Martins da Mesquita (ou Luiz Pimentel). Este
Fernão e sua irmã Leonor Lobo eram filhos de Fernão Lopes da Nóbrega,
cavaleiro da Casa de D. Afonso V, que viveu em Guimarães e a
quem este rei a 8.4.1475 doou uma tença anual de 6.000 reais
de prata, e de sua mulher Maria Lobo, n. cerca de 1439 em Montemor-o-Novo,
ama da futura duquesa de Bragança D. Isabel (n. em 1459, irmã
de D. Manuel I), sendo esta filha de Gomes Martins Lobo, n. cerca de
1410 e fal. velho pouco antes de 1490, escudeiro da Casa de D. Afonso
V (antes de 1442), morador em Montemor-o-Novo, onde foi juiz (1460)
e procurador de Montemor-o-Novo às Cortes de Lisboa de 1459,
sendo "pessoa poderosa". Sucedeu nas herdades de
seu avô materno, pois a 31.3.1450 D. Afonso V confirmou o privilégio
a Gomes Martins Lobo, morador em Montemor-o-Novo, coutando-lhe aí
as herdades de Nuno Fernandes de Moraes, cavaleiro, seu avô. A
23.3.1462 o mesmo rei perdoou três meses de degredo a Gomes Martins
Lobo, dos seis a que fora condenado para fora da vila de Montemor-o-Novo
e seu termo. Documenta-se que teve vários outros bens em Montemor-o-Velho
e seu termo. Gaio diz que jazia na matriz Montemor-o-Novo com o seguinte
letreiro: "Aqui jaz Gomes Martins Lobo Fidalgo do Duque de
Bragança". Gomes Martins Lobo casou cerca de 1438 com
Mécia Pereira, n. cerca de 1422, segundo as genealogias filha
de Nuno Fernandes de Açar, alcaide-mor de Montemor-o-Novo, e
de sua mulher Susana Lourenço. Pedro Barbosa e sua mulher Leonor
Lobo deixaram geração conhecida, nomeadamente nos Lobo
Barbosa, morgados de Vilarinho de S. Romão, e nos Azevedo Coutinho,
morgados de Besteiros (Viseu).
4.4.1.4. Jorge Barbosa, nascido cerca de 1457, que viveu em Penafiel,
nas suas casas do Adro da Igreja. Casou com Catarina de Souza,
sendo pais de Gaspar Barbosa, notário apostóloco, que
casou com Beatriz de Leão, senhora da quinta da Lagea, em Parada
de Todeia, como digo no meu estudo Meirelles
Barreto de Moraes, das Casas do Pinheiro de Cête, Sermanha de
Sedielos e Outeiro de Mouriz, e de outros, como refiro na ascendência
de António Augusto Teixeira de Vasconcellos.
4.4.1.5. Beatriz Barbosa, nascida cerca de 1460, que foi senhora
da quinta de Gilhafonces (Valdevez) e casou com Rui Dias (de Aguiã),
escudeiro de Leonel de Lima, senhor dos prazos do Remudo do Outeiro
(S. João de Parada), do casal de Parada (S. Miguel de Fontoura),
da devesa de Seixas (Caminha) e do casal de Baltar, (Stª Eulália
de Gundar), como trato no meu estudo "Reflexões sobre
a origem dos Rocha, dos Aguiã, dos Calheiros e dos Jácome".
4.4.2. João
Afonso Barbosa, o Barbosinho, nascido cerca de
1399 e falecido em 1445, que foi tabelião do julgado de Aguiar
de Sousa (hoje Paredes). A 27.2.1445 D. Afonso V nomeou Gonçalo
Anes, escudeiro do infante D. Fernando, para o cargo de tabelião
do julgado de Aguiar de Sousa, em substituição de seu
pai João Afonso Barbosinho, que morrera (CAV, 25, 69). Alão
diz que Frei Fernando do Espírito Santo, a propósito das
pessoas que no Porto ficaram isentas, por serem nobres, da finta e subsídio
que se concedeu nas Cortes de Torres Vedras, de 150 cruzados para o
dote da infanta D. Isabel para o seu casamento (em 1527) com o imperador
Carlos V, citando o livro da Câmara do Porto, a fls. 710 (Gaia
diz fls 110), diz que um deles foi Gregório Barbosa, filho de
Gonçalo Anes Barbosa, neto João Afonso Barbosa e bisneto
de Gonçalo Fernandes Barbosa. Gregório Barbosa ainda vivia
em 1527, pelo que se aceita esta informação. E é
também possível que João Afonso Barbosa, o Barbosinho,
fosse filho de Gonçalo Fernandes Barbosa, tendo usado o patronímico
do avô materno, Fernando Afonso Correa. Não se sabe com
quem casou, mas teve:
4.4.2.1. Gonçalo Anes Barbosinho, nascido cerca de 1420 e falecido
cerca de 1476, escudeiro do infante D. Fernando, tabelião geral
do Porto e tabelião de Aguiar de Sousa (27.2.1445) e de Penafiel.
A 26.2.1445 D. Afonso V nomeou João Afonso Barbosinho, o Moço,
para o cargo de tabelião de Penafiel, em substituição
de Gonçalo Anes, que renunciara (CAV, 25, 69). A 27.2.1445 o
mesmo rei nomeou Gonçalo Anes, escudeiro de D. Fernando, para
o cargo de tabelião de Aguiar de Sousa, em substituição
de seu pai João Afonso Barbosinho, que morrera (CAV, 25, 69).
A 15.4.1456 perdoou o degredo a Gonçalo Anes Barbosinho, tabelião
do julgado de Aguiar de Sousa, degredado por um ano na comarca de Entre
Douro-e-Minho, tendo pago 500 reais de prata (CAV, 13, 161). A 20.3.1459
perdoou a justiça régia a João Gonçalves
Coelho, homem de pé de Luiz Álvares de Souza, morador
em Arrifana de Sousa, acusado de tentar matar João Martins, meirinho,
aí morador, agredir Afonso Lopes, criado de Gonçalo Anes
Barbosinho, tabelião na dita vila, entre outros crimes, na sequência
do perdão geral outorgado aos homiziados que serviram na conquista
de Alcácer (CAV, 36, 88v). A 21.7.1462 nomeou Luiz Lourenço,
morador na cidade do Porto, para o cargo de tabelião geral e
especial nessa cidade e seu termo, em substituição de
Gonçalo Anes Barbosinho, que fora destituído do cargo
por ter cometido erros e falsidades no ofício (CAV, 1, 49). Finalmente,
a 5.9.1479 nomeou João André, criado de Pedro de Alcáçova,
escrivão da fazenda régia, para o cargo de tabelião
judicial da cidade do Porto, e geral do bispado da dita cidade, em substituição
de Gonçalo Anes Barbosinho, que fora destítuido do cargo
por praticar falsidades (CAV, 29, 145v). As genealogias dão o
Gonçalo Anes Barbosa pai de Gregório Barbosa (e de Marcos
Barbosa) casado com Leonor ou Maria Gonçalves. E documenta-se
que Gonçalo Anes casou com Catarina Dias, mãe de João
Barbosa. Mas este João Barbosa é cerca de 18/20 anos mais
velho do que Marcos e Gregório Barbosa, pelo que o mais provável
é que Gonçalo Anes Barbosa tenha de facto casado duas
vezes, a 1ª com Catarina Dias (a) e a
2ª com Leonor Gonçalves (b).
4.4.2.1.1. (a) João Barbosa, nascida cerca de 1450, escudeiro de D. Pedro
de Menezes, foi tabelião geral do Porto (8.3.1476). Tirou ordens
menores em Braga a 22.12.1464, como João Barbosinho, natural
do Porto (Sé), com licença de seu prelado, mas sem ser
referido como frei, pelo que era apenas noviço, vida que depois
abandonou. A 8.3.1476 D. Afonso V nomeou João Barbosa, escudeiro
de D. Pedro de Menezes, para o cargo de tabelião geral do Porto,
em substituição de seu pai, Gonçalo Anes Barbosinho.
A 19.5.1496 João Barbosa, vassalo do rei, escudeiro do conde
D. Pedro de Menezes, morador na cidade do Porto, teve confirmação
da nomeação de tabelião do cível e crime
em especial e geral na dita cidade, em seus termos e em todo o bispado
dela, gozando das rendas e direitos inerentes a esse ofício (CMI,
34, 10v). A 10.5.1497 João Barbosa, tabelião, morador
no Porto, viu confirmada autorização para ter um escrivão
ao seu serviço, sendo ele obrigado a assinar tudo o que o dito
escrivão fizer. Inserida carta de D. Afonso V de 5.6.1479 (CMI,
30, 59). A 6.10.1500 o mosteiro de Arouca renovou a João Barbosa
e sua mulher Catarina Afonso um prazo em Arrifana de Sousa que tiveram
seus pais Gonçalo Anes Barbosa e sua mulher Catarina Dias.
4.4.2.1.2. (b) Marcos Barbosa, nascida cerca de 1468, escudeiro da Casa de D. João
II (1491), tabelião de Penafiel (antes de 1505), escrivão
das sisas e dos órfãos de Aguiar de Sousa (1496), etc.
A 16.4.1496 Marcos Barbosa, escudeiro do falecido conde de Olivença,
teve confirmação de tabelião do cível e
crime no julgado da Lousada (CMI, 43, 19v). A 16.4.1496 Marcos Barbosa,
escudeiro do conde de Olivença, teve confirmação
do ofício de escrivão dos órfãos, tal como
o tinha Pedro Anes, que o renunciou para a coroa. Inserido o diploma
confirmado, de 23.10.1489 (CMI, 34, 11v). A 16.4.1496 Marcos Barbosa,
escudeiro do conde de Olivença, foi nomeado escrivão dos
feitos das sisas, tal como ele até aqui foi por carta de D. João
II, carta esta não inserida e que não consta na respectiva
chancelaria (CMI, 34, 11v). A 18.4.1496 Marcos Barbosa, escudeiro, criado
do conde de Olivença, foi nomeado tabelião no julgado
de Aguiar (CMI, 34, 11 e 11v). A 7.2.1500 Fernão Soares, escudeiro
de Diogo Brandão, fidalgo da Casa d'el rei, foi nomeado tabelião
do julgado de Penafiel do Sousa. Outorga devida a informação
recebida de no julgado haver dois tabeliães contrariando as ordenações
por serem parentes: Gregório Barbosa e Marcos Barbosa. Como o
primeiro não vendeu o ofício, segundo as instruções
do desembargador, o licenciado Pedro de Gouveia que ao andar pela comarca
se apercebeu da irregularidade, perdeu-o e em seu lugar foi nomeado
o beneficiário deste diploma (CMI, 12, 4 e 4v). A 29.9.1501 Luiz
Gonçalves Maracote, bacharel em Leis e corregedor na comarca
de Entre Douro e Minho, teve missiva notificando-o da mercê, por
"se assim é", feita a Jorge Anes, escudeiro morador
na cidade do Porto, do ofício de escrivão dos órfãos
de Sousa, concelho de Penafiel, termo da dita cidade. Depois da morte
de Pero Anes de Husso, último detentor do ofício. D. João
II, por sua carta, fizera mercê do mesmo a Afonso de Leão,
filho de Pedro Anes, o qual o não quisera servir. Então,
João de Beça, tabelião no julgado de Aguiar, citara
a cidade do Porto por se empossar do lugar. A qual citação
fora presente a ele, corregedor, que a remetera à corte, ao juiz
dos feitos. E como o lugar, passado mais de um ano, estava vago, e se
assim era que a dada do ofício lhe pertencia, como aos reis passados,
e não era de eleição da câmara, e João
de Beça não queria seguir seu direito, nem o podia servir
por ser cunhado de Marcos Barbosa, tabelião nesse julgado, o
que era contrário ao regimento que proibia servissem dois irmãos
ou cunhados de tabeliães ou escrivães no mesmo julgado,
mandava que, sendo ele, corregedor, requerido de Jorge Anes, suplicante,
fizesse citar os oficiais e procurador da cidade e partes, e procedesse
no feito (CMI, 1, 45v). Mas a 23.2.1502 João de Beça,
morador em Penafiel, foi nomeado escrivão dos órfãos
do julgado de Aguiar de Sousa. Substituiu no cargo Marcos Barbosa, destituído
por erros cometidos e neste diploma declarados (CMI, 2, 11). A 23.1.1505
Gil Rabelo teve mercê por se assim é do ofício de
tabelião de Arrifana de Sousa. O corregedor de Entre Douro e
Minho, Dr. Álvaro Fernandes, dera 2 meses de prazo a Gregório
Barbosa, tabelião, para vender o ofício - pelo não
perder, segundo capítulo de Cortes - por ser seu sobrinho outro
tabelião no mesmo lugar. E por já terem passados 2 anos
sobre o termo do prazo, ficara o ofício vago (CMI, 23, 51v).
A 23.10.1517 André Pires, morador no concelho de Arrifana de
Sousa, termo da cidade do Porto, teve mercê do ofício de
recebedor das sisas, assim como fora Pero Afonso que renunciara em mãos
d'el rei, segundo um instrumento que parecia ser feito e assinado por
Marcos Barbosa, tabelião em Arrifana de Sousa, a 25.9.1517 (CMI,
38, 107v). No reinado de D. João III Marcos Barbosa foi confirmado
como tabelião de Penafiel de Sousa (CJIII, 1, 133v), escrivão
dos órfãos de Aguiar de Sousa (CJIII, 1, 133; e 49, 124v),
escrivão das sisas de Aguiar de Sousa (CJIII, 47, 83v) e teve
carta para ter ajudante em seu ofício (CJIII, 42, 64v). Casou
com Inez de Leão, senhora da quinta do Beco, em S. Miguel de
Rans (Penafiel), filha de Pedro de Leão, juiz das sisas de Aguiar
de Sousa (1504) e senhor da dita quinta do Beco, e de sua mulher Beatriz
da Fonseca, senhora do prazo da Lagea, em Parada de Todeia, foreiro
a Paço de Sousa. De Marcos Barbosa e sua mulher Inez de Leão
foi filho sucessor Miguel de Leão Barbosa, que vendeu a sua quinta
do Beco, em S. Miguel de Rans (Penafiel), também dita erradamente
quinta ou honra de Barbosa, ao bispo do Porto D. João de Azevedo.
Depois de viúvo, sem geração, de D. Catarina de
Souza, filha dos senhores da Vila Caís, foi arcediago de Vermoim
na Sé de Braga. Instituiu a capela de Nossa Senhora do Monte
na freguesia de Guilhufe, com suas armas e letreiro que diz: Esta
capela mandou fazer Miguel de Leão Barbosa Fidalgo de El Rei.
4.4.2.1.3. (b) Gregório Barbosa, nascido cerca de 1470 e falecido depois
de 1530, escudeiro fidalgo da Casa Real e cavaleiro da Ordem de Cristo,
esteve no cerco de Azamor (1513) e foi tabelião de Penafiel.
Vem como escudeiro fidalgo e morador em Arrifana de Sousa (hoje Penafiel)
na carta de armas do neto. Alão diz que foi cavaleiro da Ordem
de Cristo e esteve em Azamor, onde foi armado cavaleiro pelo duque D.
Jaime. Gaio acrescenta que esteve no cerco de Azamor. Alão diz
que Frei Fernando do Espírito Santo, a propósito das pessoas
que no Porto ficaram isentas, por serem nobres, da finta e subsídio
que se concedeu nas Cortes de Torres Vedras, de 150 cruzados para o
dote da infanta D. Isabel para o seu casamento (em 1527) com o imperador
Carlos V, citando o livro da Câmara do Porto, a fls. 710 (Gaio
diz fls 110), diz que um deles foi Gregório Barbosa, como já
ficou referido. É certamente o Gregório Barbosa que foi
escrivão das sisas de Penafiel (CJIII, 38, 178v), tabelião
de Penafiel de Sousa (CJIII, 46, 122) e escrivão dos contos de
Lisboa (CJIII, 55, 222). Segundo Alão, casou a 1ª vez, sem
geração, com Isabel de Ilharco Sottomayor. E
a 2ª vez, cerca de 1500, com Catarina Dias Cabral, nascida
cerca de 1479, que Alão diz filha de Jorge Dias Cabral, arcediago
de Campelo (Baião), e de Maria de Macedo. Mas Alão confunde
este Jorge Dias Cabral com outro homónimo, muito posterior, filho
de Diogo Fernandes Cabral, deão da Capela Real, deão da
Sé da Guarda e administrador do bispado e prior de Povos. Este
Diogo Fernandes Cabral, deão da capela do príncipe, a
2.1.1511 teve mercê de 300.000 reais pelo rendimento das terras
de Diogo Lopes de Azevedo. E a 4.10.1516 Diogo Fernandes Cabral, capelão
do rei e prior de Stª Mª de Povos, foi feito deão da
Capela Real. A 9.11.1516, referido como deão da Sé da
Guarda, teve a administração interina deste bispado, tendo
falecido entre 16.5.1520 e 14.8.1521, como se documenta. Mas o Jorge
Dias Cabral, arcediago de Campelo, nascido cerca de 1445, devia também
ser filho de um Diogo Fernandes, o que poderá ter justificado
a confusão. Com efeito, a 6.6.1480 D. Afonso V nomeou Lopo Cabral,
moço da câmara da sua Casa, para o cargo de escrivão
da fazenda régia e dos coutos na cidade do Porto, em substituição
de Diogo Fernandes, seu pai, e de Antão Dias e João Pinto,
seus irmãos, que morreram. Jorge Dias Cabral, arcediago de Campelo,
devia ser irmão (mais velho) daqueles Lopo Cabral, Antão
Dias e João Pinto. O pai, Diogo Fernandes, já tinha falecido
em 1476 quando D. Afonso V doou vitaliciamente a Isabel Pinto, viúva
de Diogo Fernandes, escrivão da fazenda régia na cidade
do Porto, que morrera ao serviço do rei na batalha de Castro,
enquanto sua mercê for, uma tença anual de 6.000 reais,
a partir de 1476. Mas ainda vivia a 1.9.1475 quando o mesmo rei privilegiou
Diogo Fernandes, escudeiro da sua Casa, escrivão da fazenda régia
e dos contos na cidade do Porto, mandando que por sua morte ou impedimento,
os seus ofícios fiquem a ser exercidos por Antão Dias,
seu filho. Diogo Fernandes, então referido como escudeiro de
João de Albuquerque, do Conselho, foi nomeado a 1.11.1451 para
o cargo de escrivão dos contos régios na cidade do Porto,
em substituição de Pedro Afonso, seu pai, que renunciara
a favor de seu filho. E foi confirmado no cargo a 19.7.1456. Diogo Fernandes
era portanto filho de um Pedro Afonso, apesar do desacerto patronímico.
O nome Pinto usado por um dos filhos vem da mulher, Isabel Pinto. Resta
saber se o nome Cabral também não vem por ela. Neste caso,
Isabel Pinto não podia deixar de ser dos morgados da Casa Nova
de S. Paio de Favões. Mais concretamente, filha de Álvaro
Geraldes Pinto e neta de Júlio Geraldes (Cabral), corregedor
de Entre-Douro-e-Tejo (era-o em 3.11.1365), que instituiu naquele seu
filho o morgadio da Casa Nova de S. Paio de Favões, faleceu a
30.1.1381 e jaz sepultado no mosteiro de Vila Boa do Bispo. Voltando
a Gregório Barbosa e sua 2ª mulher Catarina Dias Cabral,
deles foi filho, entre outros, Jorge Barbosa (a quem as genealogias
chamam Jorge Barbosa Cabral), nascido cerca de 1507 e falecido octogenário
cerca de 1590, cavaleiro fidalgo da Casa Real, tabelião de Penafiel,
onde viveu, bem assim como na quinta da Varziela, em Stº Estevão
de Vilela. Vem com cavaleiro fidalgo da Casa d'el rei, natural e morador
em Arrifana de Sousa (hoje Penafiel), freguesia do mosteiro de Vilela,
na carta de armas do filho. Gaio diz que foi fidalgo da Casa Real e
teve por sua mulher a quinta da Vraziela, em Stº Estevão
de Vilela. Documenta-se como tabelião de Arrifana de Sousa (Penafiel).
No casamento das filhas, em Stº Estevão de Vilela, diz-se
que é morador com sua mulher Madalena Rangel no seu casal de
Varziela, aparecendo como vivo a 10.9.1589 e já falecido a 28.1.1591.
Mas o seu óbito não aparece em Stº Estevão
de Vilela, pelo que terá falecido noutro sítio, possivelmente
em Penafiel ou no Porto. É possível que seja o Jorge Barbosa,
cavaleiro, de Arrifama de Sousa, que testemunhou um prazo do mosteiro
de Arouca feito a Maria Barbosa, viúva de Rui de Couros, em 1533.
Neste caso terá nascido cerca de 1507, falecendo velho com cerca
de 83/85 anos. Casou com Madalena Rangel, senhora da dita quinta, que
tudo indica que seja filha de D. Diogo Dias Rangel (de Macedo), comendatário
do mosteiro de cónegos crúzios de Stº Estêvão
de Vilela. Deste casamento nasceu cerca de 1557 Baltazar Barbosa Rangel,
que a 12.3.1625 teve carta de armas para Barbosa, em pleno, sem diferença,
onde consta como cavaleiro fidalgo da Casa Real, morador na sua quinta
junto ao mosteiro de Chelas, natural de Arrifana de Sousa, filho legítimo
de Jorge Barbosa, cavaleiro fidalgo da Casa d'el rei, e de sua mulher
Madalena Rangel, naturais e moradores na dita vila, freguesia do mosteiro
de Vilela, e neto de Gregório Barbosa, escudeiro fidalgo, já
defuntos e moradores em Arrifana de Sousa (falta na carta a referência
à mulher de Gregório, implícita no texto), os quais
pais e avós são nobres e de grandes Casas e se trataram
como fidalgos com criados e cavalos e armas para o serviço de
Sua Majestade. Acrescenta que ele, Baltazar Barbosa Rangel, cavaleiro
fidalgo, serviu nas partes de África muitos anos. Deste Baltazar
foi irmão mais velho Gaspar Barbosa, sucessor na dita quinta
da Varziela, onde faleceu a 25.5.1610, e que foi casar cerca 1578 a
S. Cosme de Besteiros (Paredes), com Isabel de Couros, falecida a 4.8.1650
em Vilela, filha de Simão de Couros, escudeiro fidalgo e capitão
do julgado de Aguiar de Sousa, senhor da quinta do Paço da Torre,
em S. Cosme de Besteiros, onde faleceu com cerca de 92 anos a 13.3.1632,
e de sua mulher Maria Carneiro, falecida a 2.7.1628, ib. Apesar de casado
com uma Carneiro, provavelmente sua parente, este Simão de Couros
era certamente dos Couros Carneiro do Porto, pois teve uma filha bastarda
chamada Maria Carneiro, como se documenta nos paroquiais. Gaio diz que
aquele Gaspar Barbosa teve a quinta do Paço da Torre, em Besteiros,
do sogro Simão de Couros. De facto, Simão de Couros teve
esta quinta do Paço, como se documenta. Mas Gaspar Barbosa não
aparece nos paroquiais de S. Cosme de Besteiros, onde casou cerca de
1578 (os paroquiais começam em 1587), pois viveu em Vilela, onde
faleceu, como ficou dito. E quem certamente herdou a quinta do Paço
da Torre foi seu filho Estêvão Barbosa Carneiro, não
directamente de Simão de Couros mas já de seu filho João
Carneiro, que aí morreu sem geração a 1.5.1652,
tendo-lhe este seu sobrinho Estêvão feito os bens de alma.
Gaspar Barbosa deve ter sido dotado, no seu casamento com Isabel de
Couros, com terras em S. Cosme de Besteiros, as quais por sua morte
passaram a seu filho segundo Tomé Barbosa, que aí se documenta
morador na quinta da Vidigueira, onde faleceu relativamente novo a 28.1.1630,
portanto 2 anos antes do avô materno Simão de Couros, bem
como sua mulher Victória Francisca da Franca, aí falecida
pouco depois, a 30.3.1630. A quinta da Vidigueira tem capela particular,
da invocação de Nª Sª do Rosário, instituída
na 1ª metade do séc. XVIII por António Martins de
Sampayo, tendo sido este Tomé Barbosa e sua mulher certamente
os 1ºs senhores da quinta. Nas "Memórias Paroquiais"
(1758) diz-se que a capela de Nª Sª do Rosário da quinta
da Vidigueira era a única capela particular da freguesia. Diz
o abade de Besteiros neste inquérito: "tem hua Capella
da Quinta da Vidigueira sob invocação de Nª Srª
do Rosário, nos limites da freguezia, que parte do Nascente,
em a qual há obrigação de satisfação
de legado de missa quotidiana de esmola de cem reis seguro na Casa da
Misericórdia da Villa de Arrifana de Sousa pela tença
e intenção dos instituidores donos da dª Quinta e
liberdade de nomearem capelão e seus herdeiros, e na sua falta
o Parº desta Igreja e a dª Misericórdia".
De Tomé Barbosa e sua mulher foi filho sucessor Manuel Barbosa
(1604-1668), e deste foi 6º neto e sucessor na quinta da Vidigueira
o escritor António Augusto
Teixeira de Vasconcellos (1816-1878). Vide também o meu estudo "Reflexões
sobre a origem dos Rocha, dos Aguiã, dos Calheiros e dos Jácome".
4.4.2.1.4. (b) Miguel Barbosa, que casou com Grácia da Rocha, segundo
Gaio. É duvidoso e Alão não o refere.
4.4.2.2. João
Afonso Barbosinho, o Moço, tabelião
de Penafiel (26.2.1445). A 26.2.1445 D. Afonso V nomeou João
Afonso Barbosinho, o Moço, para o cargo de tabelião de
Penafiel, em substituição de Gonçalo Anes, que
renunciara (CAV, 25, 69). A 17.9.1484 D. João II confirmou João
Afonso Barbosinho como tabelião de Penafiel (CJII, 22, 97).
4.4.2.3. Gregório
Barbosa, que era tabelião de Penafiel
em 1500 e 1505, quando se documenta como tio de Marcos Barbosa. Conforme
já ficou dito atrás, a 7.2.1500 Fernão Soares,
escudeiro de Diogo Brandão, fidalgo da Casa d'el rei, foi nomeado
tabelião do julgado de Penafiel do Sousa. Outorga devida a informação
recebida de no julgado haver dois tabeliães contrariando as ordenações
por serem parentes: Gregório Barbosa e Marcos Barbosa. Como o
primeiro não vendeu o ofício, segundo as instruções
do desembargador, o licenciado Pedro de Gouveia que ao andar pela comarca
se apercebeu da irregularidade, perdeu-o e em seu lugar foi nomeado
o beneficiário deste diploma. El-rei o mandou pelo doutor Rui
Boto, do seu Conselho e chanceler-mor em seus reinos e senhorios (CMI,
12, 4 e 4v). E a 23.1.1505 Gil Rabelo teve mercê por se assim
é do ofício de tabelião de Arrifana de Sousa. O
Corregedor de Entre Douro e Minho, Dr. Álvaro Fernandes, dera
2 meses de prazo a Gregório Barbosa, tabelião, para vender
o ofício - pelo não perder, segundo capítulo de
Cortes - por ser seu sobrinho outro tabelião no mesmo lugar.
E por já terem passados 2 anos sobre o termo do prazo, ficara
o ofício vago (CMI, 23, 51v).
4.4.2.3.1. Gregório
Barbosa, que Gaio diz que foi pai de Pantaleão Barbosa, que
vivia em Bemviver na sua quinta do Barreiro quando em 1586 testemunhou
na justificação de nobreza de António Cerqueira,
sendo referido como fidalgo da Casa Real e tendo 90 anos idade. Isto
quer dizer que este Pantaleão nasceu em 1496, pelo que seu pai
Gregório não terá nascido depois de 1470. Portanto,
este Gregório não podia ser filho do Gregório Barbosa
que lhe dá Gaio (o referido acima, irmão de Marcos), pois
este nasceu justamente cerca de 1470. Assim, deve ser filho do Gregório
Barbosa que leva por pai, tio do outro, que Gaio desconhecia e por isso
confundiu com o sobrinho. E este Gregório Barbosa é que
deve ter sido o que foi juiz dos órfãos de Bemviver (CJIII,
30, 33v; e 42, 14v) e procurador do número de Bemviver (CJIII,
53, 237v), e ainda o que foi tabelião de Sanfins (CJIII, 36,
139).
4.4.3. Isabel Barbosa, nascida cerca de 1400, que levou em dote
a quintã de Marrancos, no lugar do Paço, concelho de Penela.
Casou cerca de 1420 com Rui Vasques Aranha, vassalo de D. João
I, que o legitimou por carta real de 30.9.1389, onde consta como Rui
Vasques Aranha, seu vassalo, filho "de huu clerigo d ordees
sacras e de hua molher solteira", não identificados.
Como explico no meu estudo “Uma linha
Azevedo em Viseu”, Rui Vasques Aranha, nascido cerca
de 1380, só podia ser filho de Vasco Gonçalves Aranha,
portanto clérigo antes de 1380, e neto de Gonçalo Aranha
e sua mulher Aldonça Anes Alvello. Este Gonçalo Aranha,
cavaleiro, vassalo de D. João I, foi senhor do couto de Serzedelo
(Lanhoso), por sua mulher, e teve a quintã de Vila Nova de Foz
Côa e a terra de Parada (Prado). Com efeito, a 11.9.1384 o mestre
de Avis doou a "gonçallo aRanha scudeiro"
o foro de uma quintã que ele tinha em Vila Nova de Foz Côa,
que era de 20 libras e quatro soldos, bem como de todos os foros que
o rei tinha em Vila Nova de Foz Côa, e ainda a terra de Parada,
no julgado do Prado, que ele trazia arrendada por 13 maravedis velhos.
A 23.6.1386, o mesmo rei confirmou a "gonçallo aranha
caualleyo nosso uasallo", que "soe casado com aldonça
ans sua molher neta de gil mjz aluello", a quintã,
couto "com honra no logo", senhorio e jurisdição
de Serzedelo, no julgado de Lanhoso, que era herança dela e que
Fernão Gomes da Silva, que tinha o castelo de Lanhoso e estava
em deserviço, havia usurpado. Esta Aldonça Anes Alvello
era a herdeira e chefe desta linhagem que usou um nome derivado de alcunha,
família completamente distinta dos "de Alvellos",
com que vulgarmente é confundida, e que são descendentes
de D. Monio Ozores de Cabreira, igualmente tronco dos Vasconcellos.
Gonçalo Aranha, nascido cerca de 1335, que não podia ser
sobrinho mas sim tio do bispo do Porto D. João Afonso Aranha,
o qual em 1389 ainda nem sequer é referido como clérigo,
apenas morador no Porto, e só em 1392 é pela 1ª vez
referido como cónego da Sé do Porto. Gonçalo Aranha
seria assim irmão de um indocumentado Afonso Aranha (pai do bispo,
sendo que este se documenta filho de Joana Domingues), de Gil Aranha,
vassalo de D. João I, que a 22.9.1384 lhe fez doação
do foro de todas as herdades que ele tinha em Castro Daire, no valor
de 20 libras, e de João Fernandes Aranha, que a 28.8.1385 teve
em préstamo as terras de Roças e Vila Boa, que a 25.6.1392
passaram a Nuno Viegas do Rego. As genealogias não concordam
nem na ascendência nem na descendência de Rui Vasques Aranha
e Isabel Barbosa, sendo que o que dizem não é sustentável,
desde logo pela cronologia. Alão dá cinco filhos ao casal,
a saber: outro Rui Vasques Aranha casado com Grácia da Rocha;
Lopo Correa e Fernão Barbosa, ambos escudeiros do infante D.
Henrique; Inez Barbosa casada com Pedro do Rego, c.g.; e Maria Barbosa
casada com João do Rego, c.g. Sendo certo que os filhos de Rui
Vasques Aranha e Isabel Barbosa teriam de ter nascido entre 1420 e 1440,
destes só Lopo Correa e Fernão Barbosa são cronologicamente
possíveis. Rui Vasques Aranha casado com Grácia da Rocha,
que na verdade se documenta Isabel da Rocha, foram de facto pais, como
diz Alão, do Doutor Pedro Barbosa, lente da Universidade de Coimbra,
que nasceu em Viana em 1530, o que inviabiliza a filiação
do pai. João do Rego, escudeiro do duque de Bragança,
a 6.12.1501 teve mercê do ofício de escrivão da
alfândega de Viana de Lima, porquanto Duarte Álvares, que
o servia, fizera tais erros e cousas no ofício que o perdia para
el rei, que o podia dar a quem sua mercê fosse. E o irmão
Pedro do Rego, escudeiro, morador na vila de Viana, a 2 de Abril do
mesmo ano teve mercê do ofício de juiz da alfândega
e escrivão das sisas de Viana de Lima, por ser o mesmo ofício
perdido por Pedro Gomes, que abusava da sua autoridade, nomeadamente
por levar muito nas peitas aos moradores estrangeiros e também
por mandar servir por si os ditos ofícios sem para isso ter licença.
Mas Fernão Barbosa (nome do tio materno) e Lopo Correa (apelido
da avó materna) são certamente filho de Rui Vasques Aranha
e Isabel Barbosa, pois são o Fernão Barbosa e o Lopo Correa
que a 21.2.1450 tiveram confirmação real do couto, honra
e jurisdição da quintã de Serzedelo, no julgado
de Lanhoso, bem como carta de privilégio para os seus lavradores,
moradores e caseiros, sob pena do pagamento de 6.000 soldos para quem
não cumprir com o determinado, referindo-se à antedita
carta de D. João I de 23.6.1386. E certamente o Fernão
Barbosa, fidalgo da Casa Real, que a 13.4.1475 teve mercê real
para arrendar as suas rendas, segundo a Ordenação. E certamente
o Lopo Correa, escudeiro de Fernão Soares de Albergaria, que
foi coudel (19.1.1440) e juiz dos órfãos (22.4.1441 e
5.11.1555) do Prado e tabelião do cível do Prado, Vila
Chã e Larim (20.4.1453). O que significa, também, que
estão certos os genealogistas, como Belchior de Azevedo, que
informam a existência de três homónimos Rui Vasques
Aranha, um casado com Isabel Barbosa, outro casado com Maria Fernandes
e outro casado com Isabel da Rocha. A sucessão de Fernão
Barbosa e Lopo Correa em Serzedelo dá indicação
de que Rui Vasques Aranha e Isabel Barbosa não tiveram outros
filhos homens, pelo que o 2º Rui Vasques Aranha casado com Maria
Fernandes deve ser filho deste Fernão Barbosa, o que viria solucionar
o problema cronológico. Com efeito, não é crível
que o avô paterno do antedito Doutor Pedro Barbosa, nascido em
1530, pudesse ter nascido cerca de 1425, mais de 100 anos antes. Assim,
o 2º Rui Vasques Aranha, se foi filho de Fernão Barbosa,
pode ter nascido cerca de 1450. Trata-se, portanto, do Rui Vasques Aranha,
cavaleiro, criado do duque de Bragança e morador em Ponte de
Lima, que a 21.10.1476 teve de D. Afonso V carta de privilégio
de fidalgo para a comarca e correição de Entre-Douro-e-Minho.
E quem era a sua alegada mulher Maria Fernandes, a quem Gaio, seguindo
Belchior de Azevedo, chama Maria Fernandes Botelho, sem a entroncar
nesta linhagem? Alão, que como vimos também faz grossa
confusão quando trata o início desta gente, diz que o
Rui Vasques Aranha casado com Isabel Barbosa era filho de um (…)
Aranha, que “viveu em Entre Douro e Minho” e de
sua mulher Maria Fernandes, filha de Afonso Rodrigues e sua mulher Leonor
Dias, de Viana. Na verdade, como vimos, esse inicial Rui Vasques Aranha
era filho de um clero, como se documenta na legitimação.
E, como trato no meu “Ensaio sobre a origem
medieval dos Boto”, aquela Leonor Dias Boto nasceu pouco
antes de 1470 e faleceu em 1538 em Viana, tendo casado a 1ª vez
com Fernão (não Afonso) Rodrigues do Cais e a 2ª
vez com o célebre navegador João Álvares Fagundes.
Se Maria Fernandes foi filha dela e de Fernão Rodrigues, não
terá nascido muito antes de 1484. Podendo bem ter casado com
o 2º Rui Vasques Aranha, nascido cerca de 1450, que em 1476 vivia
em Ponte de Lima, e sobretudo ser mãe do 3º Rui Vasques
Aranha, assim nascido cerca 1500, o que já concorda com o facto
de este 3º Rui Vasques ter um filho nascido em 1530. Resta dizer
que Gaio dá ao casal Rui Vasques Aranha e Isabel Barbosa vários
outros filhos não referidos por Alão, mas todos inviáveis.
Contudo, há um que convém aqui tratar: Álvaro Barbosa
Aranha. Segundo Gaio, este Álvaro foi senhor da quintã
de Marrancos, a que portanto sucedeu a sua mãe, e casou com Genebra
ou Guiomar Pereira do Lago, filha de Pedro Comes Pereira do Lago e sua
mulher Catarina Álvares Fagundes. Alão também dá
Álvaro Barbosa Aranha como senhor da quintã de Marrancos
e casado com Genebra Pereira, filha de Pedro Gomes Pereira, “um
homem honrado, que veio das partes de Monção para Viana;
e presume-se que era dos Pereiras do Lago”, e de sua mulher
Catarina Álvares Fagundes. Sendo que aquela Genebra Pereira era
irmã de Ana Pereira casada com António Fernandes do Cais,
irmão da antedita Maria Fernandes, erradamente dada como mãe
do inicial Rui Vasques Aranha e que aqui dou como mulher do 2º
Rui Vasques Aranha. Quer isto dizer que Álvaro Barbosa Aranha
casou com uma concunhada de Rui Vasques Aranha II, o que indicia que
este Rui Vasques e Álvaro Barbosa Aranha eram não só
da mesma geração mas certamente irmãos, portanto
ambos filhos de Fernão Barbosa e netos de Rui Vasques Aranha
I e Isabel Barbosa. Alão, que não sabia da existência
de Fernão Barbosa como filho sucessor de Rui Vasques Aranha I,
dá Álvaro Barbosa Aranha como filho de um inexistente
Rodrigo Barbosa Aranha, que não entronca e a quem não
indica mulher. É contudo duvidoso que Álvaro Barbosa Aranha
tenha sucedido na quintã de Marrancos, pois Gaio diz que esta
quintã foi julgada a 1.4.1637 a um bisneto deste Álvaro.
De Álvaro Barbosa Aranha e de Rui Vasques Aranha II devem ainda
ser irmãs as mulheres de João do Rego e Pedro do Rego
que ficaram referidos atrás.
4.4.4. Beatriz Barbosa, segundo as genealogias, que teria casado
com Estevão Gonçalves (de Novais ou Varela),
o Justeiro, sobre quem Gaio diz o seguinte: "diz o Reitor de
Morufe, que não casara mas que tivera de Estevão Gonçalves
Capelão que foi da Casa de seu pai, com a qual fugira para Coura
e moraram no lugar de Lapela, ou Capela com tanto recato que nunca seu
pai o soube, nem o pode descobrir, e julgando que nas suas vizinhanças
não podia haver quem tivesse o atrevimento de lhe roubar sua
filha mais o Comendatário do Carvoeiro, estando firme neste conceito
de que ele tinha roubado quando o mesmo Comendatário passava
para Braga lhe saiu ao caminho com Criados com lanças, e Adargas,
e o matou as lançadas sobre umas lages que muitos anos concervaram
o sangue daquele inocente, na frase dos Lavradores, e trazendo o dito
Comendador um rico colar de ouro ao pescoço um criado do dito
Gonçalo Fernandes Barboza lho tirara por cujo facto ficara seu
amo culpado por ladrão, e salteador, e matador, e por isto lhe
tiraram todas as merces e privilégios, e regalias da casa, e
foi o princípio da ruína da casa: o Ab.e de Esmeriz no
ttº de Barbozas diz que esta Brites Barboza fora casada com Estevão
Gonçalves Justeiro, a que outros chamam Gesteiro, e diz mais
que indo depois da morte de Gonçalo Fernandes Barbosa seu filho
para aquelas partes, e anoitecendo lhe no lugar da Lapela onde morava
o dito Estevão Gonçalves Justeiro lembrando-se dele que
tinha sido criado da sua casa se foi a ela recolher, ignorando que ele
lhe tinha furtado a irmã Brites Barbosa, e entrando pela porta
dentro conhecendo a irmã esta, e Estevão Gonçalves
se lhe lançaram aos pés a pedir-lhe perdão, e igualmente
os filhos, e que ele enternecido das lágrimas lhe perdoara, e
os trouxera consigo para Aborim, e apresentara no dito Estevão
Gonçalves Justeiro já viúvo a Igreja de S. Miguel
de Fontoura, e S. Julião da Silva: era o dito Estevão
Gonçalves Justeiro dizem uns da família dos Novaes, e
outros dizem ser da família dos Varelas de Salamanca, outros
dizem que ele tomara o apelido de Justeiro (dizem se chamava Justeiro
por ser grande Justador) por ser natural do lugar da Gesteira em Coura,
e que era pessoa Principal, e Padroeiro da Igreja de S. Maria de Linhares,
e de Ferreira no concelho de Coura, e que não fora criado de
Gonçalo Fernandes Barbosa, mas muito seu privado, por cuja amizade
lhe furtara a filha".
4.4.5. Pedro Barbosa, escudeiro, nascido cerca de 1404. A 13.5.1444
D. Afonso V perdoou a justiça régia e concedeu carta de
segurança a Gil Gonçalves, criado de Pedro Barbosa, pela
fuga da prisão, contanto que se livre de direito do que era acusado.
Casou com Senhorinha Anes Vieira, filha de João Gonçalves
Vieira, criado de D. João I, procurador do número e contador
de Guimarães. A 1.3.1435 D. Duarte confirmou João Gonçalves
Vieira, criado de D. João I, como procurador do número
e contador de Guimarães, e a 5.8.1439 D. Afonso V reconfirmou-o
no cargo.
4.4.5.1. João Barbosa, nascido cerca de 1432, escudeiro
da Casa de Bragança, morador em Ponte de Lima e senhor da quinta
de Penteeiros, no termo de Ponte de Lima, entre S. Pedro de Arcos e
Estorãos. A 9.11.1458 D. Afonso V confirmou a João Barbosa,
escudeiro da Casa do duque de Bragança, todos os privilégios,
honras, tomadias e liberdades que tem numa quinta no termo de Ponte
de Lima, entre S. Pedro de Arcos e Estorãos. Casou com Violante
de Magalhães, da quinta de Mato Bom, na freguesia de Estorãos,
referida no meu Ensaio sobre a origem dos
Magalhães, irmã de Leonor de Magalhães,
que sucedeu nesta quinta, ambas filhas de Paio Rodrigues de Magalhães.
4.4.5.1.1. Isabel
Barbosa, nascida cerca de 1462, que levou em dote a quinta de Penteeiros
e foi a 1ª mulher (casados cerca de 1480) de seu parente Fernão
de Souza de Magalhães, fidalgo da Casa Real, alcaide-mor
de Ervededo (12.13.1477), capitão e fronteiro de Salvaterra do
Minho (21.12.1483), que a 30.6.1486 teve carta de privilégio
de fidalgo, etc., filho segundo dos 1ºs senhores de Ponte da Barca.
Terá sido este Fernão de Souza, como em geral aparece
documentado, que mandou fazer a actual casa da quinta de Penteeiros,
claramente quatrocentista, onde colocou uma pedra com as suas armas
(Souza, ditos de Arronches, em pleno). Com geração conhecida.
4.5. Isabel da Cunha (ou Correa), que casou com Rui Vasques, senhor
da quintã do Crasto e da torre de Penaboa, em S. Martinho de Cavalões
(Vermoim), como refere a Corografia Portuguesa, c.g.
4.6. Aires Correa, n. cerca de 1388, cavaleiro da Ordem de
S. João (Rodes) e comendador e alcaide-mor de Algoso nesta ordem e parece
que também comendador de Távora na Ordem de Cristo. A 5.3.1442
D. Afonso V, na sequência do preito e menagem que lhe foi feito
por Aires Correa, comendador de Algoso, por seu procurador João
Correa (seu irmão), recebeu-o por alcaide do castelo. Teve uma
filha natural, que foi dotada por João Correa, comendador de Poiares,
irmão deste Aires, referido acima.
4.6.1. Tereza Correa, nascida cerca de 1424, que em 1441 foi
dotada em Guimarães por seu tio João Correa, comendador de Poiares,
com os prazos de Escariz e Paredes, para casar com Afonso Botelho.
(Na imagem: escudo de armas dos Botelho - infografia do autor)
Alão não entronca este Afonso Botelho e Gaio dá-o anacronicamente como
filho de Afonso (Martins)
Botelho e sua mulher Mécia Vasques de Azevedo. Como já referi nas "Ascendências
Visienses" ,
este Afonso Botelho é seguramente o que a 12.6.1445 é referido
como escudeiro e criado do conde de Vila Real quando obteve carta de
perdão real da acusação de ter morto um Fernão Gonçalves. A 25.11.1446,
sendo dito morador em Vila Real, teve carta de privilégio de fidalgo.
A 11.11.1451 D. Afonso V privilegiou Afonso Botelho, colaço da
condessa de Vila Real, e a pedido dela, concedendo-lhe licença
para andar de besta muar de sela e freio por todo o reino e senhorio.
E a 14.2.1475 ainda é referido como escudeiro do conde de Vila Real,
e filho de Afonso Botelho, cavaleiro da Casa do dito conde, quando teve
do rei uma tença de 4.000 reais de prata pelos serviços prestados na
conquista de Arzila. Nascido cerca de 1416, Afonso Botelho teria 80
anos em 1496, pelo que dificilmente é o Afonso Botelho, escudeiro,
morador em Vila Real, que a 7 de Abril desse ano foi confirmado por
D. Manuel I como juiz das sisas nessa vila, assim e pela maneira como
já era por carta de D. João II (em cuja chancelaria, contudo,
não consta a nomeação). Mas a alternativa, que
seria tratar-se do seu neto homónimo sucessor, também
não é viável, pois este nasceu cerca de 1471/2,
sendo portanto demasiado novo para ser juiz das sisas no reinado de
D. João II, além de que foi nomeado para este cargo no
reinado de D. João III. Quanto à ascendência de
Afonso Botelho, temos, portanto, que foi filho de outro Afonso Botelho,
referido em 1475 como cavaleiro da Casa do conde de Vila Real, ano em
que ainda poderia estar vivo, mas muito velho, e de sua desconhecida
mulher, que foi ama-de-leite da condessa de Vila Real D. Beatriz de
Menezes, uma vez que o filho Afonso Botelho era seu colaço. Quanto
a Afonso Botelho, o pai, nascido cerca de 1385, era filho mais novo
de Diogo Afonso Botelho e sua 2ª mulher Maria Fernandes Carvalho.
Diogo Afonso Botelho, nascido cerca de 1323 e falecido depois de 1385,
em 1339 aparece como infançãona lista dos padroeiros de
Mancelos, com seu irmão e sua mãe, e em 1344 documenta-se
como escudeiro e vassalo do rei. Em 1365 não aparece na lista
de Grijó, ao contrário do que acontece com seu irmão,
mas não teria já falecido, como suspeita Pizarro, pois
casou 2ª vez cerca de 1375. O mais provável é que
estivesse fugido em Castela, por desentendimentos com D. Pedro, tendo
regressado depois de 1367 com o reinado de D. Fernando. Casou a 1ª
vez cerca de 1344 com Inez Martins, senhora da quinta do Varatojo, c.g.
Em 1344 Mestre Pedro, cirurgião, e sua mulher Maria Gonçalves,
compraram uma quinta em Varatojo, no termo de Lisboa, a Diogo Afonso
Botelho, escudeiro, vassalo del-rei, e a sua mulher Inez Martins, moradores
em Paços, termo de Vila Real. em Paços, termo de Vila
Real, onde vivia em 1344, é certamente a quintã do Paço
ou de Paços, em Borbela, termo de Vila Real, também chamada
Paços de Borbela, quinta que estava na posse da sua descendência.
Diogo Afonso Botelho e seu irmão Martim Afonso Botelho eram filhos de Afonso Martins Botelho,
nascido cerca de 1300 e já falecido em 1339, e de sua mulher Mécia Vasques
de Azevedo, que já é referida com seus irmãos em 1329 na lista dos naturais de Vilar de Porcos, e que casou entretanto, pois na lista dos naturais
de Mancelos de 1339 já aparece viúva, entre os infanções, com os ditos
seus filhos Diogo Afonso e Martim Afonso Botelho, que teriam então entre
7 e 9 anos de idade. Portanto, o Afonso Botelho em epígrafe não era
filho de Mécia Vasques de Azevedo, como diz Gaio, mas sim seu bisneto!
Aquele Afonso Martins Botelho, já falecido em 1339, deixando filhos
menores, que terá nascido cerca de 1300 e diz o LL "que matarom em Aguiar de Campos", era irmão do Martim Martins “Barva” que casou com Inez Vasques de Rezende,
ambos filhos de Martim (Peres) Botelho ,
e de sua mulher Joana Martins de Parada,
e netos paternos de Pedro (Martins) Botelho ,
alcaide-mor de Sortelha, e de sua mulher Dórdia Martins de Bulhão, ou
de Lisboa, que depois casou com João Raimundes de Portocarreiro, que
era alcaide-mor de Lisboa em 1278.
4.6.1.1. Pedro
Botelho,
nascido cerca de 1443 em Vila Real, (S. Dinis), que tirou ordens menores
em Braga [29] a 5.4.1455. Foi alcaide-mor de Vila Real e sucessor nos prazos de Escariz
e Paredes. Casou com Catarina Álvares Taveira.
4.6.1.1.1. Afonso Botelho, que tirou ordens menores em Braga [30] a 7.7.1478 como Afonso Pires Botelho, foi
alcaide-mor e juiz das sisas de Vila Real e sucessor nos prazos de Escariz
e Paredes, tendo tirado carta de armas para Botelho a 25.10.1531 (CJIII,
73, 8). Casou com Genebra Pereira de Sampayo, com geração.
4.6.1.2. Isabel
Botelho Correa ,
nascida em 1447 em Vila Real e fal. cerca de 1490. Casou a 1ª vez cerca
de 1461 com João Afonso de Proença ,
escudeiro, coudel de Tarouca, Mondim da Beira e Valdigem, senhor dos
dízimos e padroado da igreja de Mondim da Beira (Tarouca), etc.,
c.g. que trato no meu Ensaio
sobre a origem dos Proença. Casou a 2ª vez cerca de
1480 com Diogo da Mesquita,
pajem do marquês de Vila Real, c. g. que trato no meu meu Ensaio
sobre a origem dos Mesquita.
4.6.1.3. Aires
Botelho,
nascido em Vila Real (S. Dinis) cerca de 1449, tirou ordens menores
em Braga [31] a 11.6.1457.
4.6.1.4. Diogo
Afonso Botelho,
nascido em Vila Real (S. Dinis) cerca de 1453, tirou ordens menores
em Braga [32] a 4.10.1461.
4.6.1.5. Mécia
Correa Botelho,
filha tardia, nascida em Vila Real (S. Dinis) cerca de 1462 e fal. cerca
de 1530, ib. Casou com o Doutor Pedro Ribeiro, secretário do
arcebispo de Braga D. Diogo de Souza, etc., senhor da quinta do Paço,
em Borbela, termo de Vila Real, padroeiro dos mosteiros de Borbela e
Lama (Braga), etc.
4.6.1.5.1. Isabel Ribeiro Botelho, nascida cerca de 1487 em Vila Real e falecida
cerca de 1566, ib. Casou cerca de 1505, ib,com Diogo Rodrigues de
Barros, alcaide-mor e das sacas de Vimioso, que tirou ordens menores
em Braga [33] a 12.3.1502, filho de Gonçalo Vaz do Rego,
alcaide-mor e das sacas de Vimioso (28.6.1496) [34] , e de sua mulher Isabel de Barros. Com
geração nos Botelho Machado, de Viseu, numa linha Correa Botelho, de
Vila Real, e nos Correa Botelho Pacheco Pereira,
do Porto.
4.7. Maria Correa, nascida cerca de 1390 e falecida antes
de 1450, que foi a 1ª mulher de Francisco Anes de Torres, com
quem casou cerca de 1408. Francisco Anes de Torres foi cavaleiro
fidalgo da Casa Real e morgado de Ponte da Ceira, em Coimbra (1.2.1450),
tendo casado 2ª vez com Violante Álvares de Sequeira, ama da rainha
D. Isabel. A 1.2.1450 D. Afonso V doa perpetuamente a Francisco Anes
de Torres, cavaleiro da Casa da rainha D. Isabel, a pedido da mesma,
o morgado da Ceira, situado no termo da cidade de Coimbra, com todas
suas entradas, saídas e pertenças, rendas e direitos, que pertencia
a Diogo Gonçalves de Travaços. A 21.3.1452 o mesmo rei doa a Francisco
Anes de Torres e a sua mulher Violante Álvares uma tença anual de 12.000
reais de prata. E a 29.3.1454 doa a Francisco Anes de Torres, cavaleiro
da sua Casa, para sempre, a quinta de S. Pedro Fins, no termo de Montemor-o-Velho,
do almoxarifado de Coimbra, com todas as suas rendas e direitos entradas,
saídas, foros, pertenças e couto. Finalmente, a 1.9.1462 Dom Afonso
V autoriza a igreja de S. Tiago de Coimbra a receber os bens de raiz
que lhe deixara em testamento Violante Álvares de Sequeira, moradora
em Coimbra, ama da rainha D. Isabel.
4.7.1. Beatriz Correa, que casou cerca de 1425 com Gonçalo
Teixeira, cavaleiro fidalgo da Casa Real, monteiro da Casa Real
(antes de 1446), almoxarife da portagem da cidade de Lisboa e coudel
da vila de Alenquer. A 18.7.1446 D. Afonso V nomeia Gonçalo Teixeira,
escudeiro da sua Casa, que fora monteiro régio, para o cargo de almoxarife
da portagem régia da cidade de Lisboa, em substituição de Garcia Afonso,
que morrera. A 26.8.1451 o mesmo rei nomeia novamente Álvaro Pires,
morador em Lisboa, escudeiro de Gonçalo Teixeira, cavaleiro, almoxarife
da portagem da dita cidade e a seu pedido, para o cargo de requeredor
da portagem nessa cidade. E a 16.6.1455 nomeia por 5 anos Gonçalo Teixeira,
almoxarife da portagem de Lisboa, para o cargo de coudel da vila de
Alenquer e seu termo, em substituição de João de Avelar, que acabou
o tempo de exercício do cargo. Era filho de Vasco Gonçalves Teixeira
e sua mulher Catarina Anes de Berredo.
4.7.1.1. Martim Gonçalves Teixeira
4.7.1.2. João Teixeira, almoxarife da portagem de Lisboa
antes de 4.5.1481, como se diz adiante
4.7.1.3. Aires Correa, fidalgo da Casa Real e almoxarife da portagem
de Lisboa. A 4.5.1481 D. Afonso V nomeou Aires Correa, fidalgo da sua
Casa, para o cargo de almoxarife da portagem da cidade de Lisboa, em
substituição do seu irmão João Teixeira, a quem o rei retirou o cargo.
Com geração nos Correa Baharem. Deste Aires diz Gaio que foi filho mais
velho Frei Vasco Correa, provincial da Ordem de S. Francisco. Deve ser
o Vasco Correa, moço fidalgo da Casa Real, que a 8.7.1501 teve com sua
mãe mercê de ofício de 20.000 reais de prata anuais, para
ajuda da criação dele e dos irmãos, sendo filho de Aires Correa, fidalgo
da Casa Real, que tinha falecido na Índia, onde o rei o mandara como
seu feitor. A 25.4.1504 a mulher de Aires Correa teve mercê real de
umas terras nas lezírias de Vila Franca de Xira, como trazia seu falecido
marido e pelo foro que ele pagava. O filho sucessor foi António Correa,
referido como moço fidalgo e filho de Aires Correa quando a 12.3.1518
vendeu a Jorge de Albuquerque a dita tença de 20.000 reais, que tinha
tido a 11.8.1505, certamente por seu irmão mais velho ter professado.
4.7.2. D. Maria Correa, que julgo filha de Maria Correa. Foi abadessa
do mosteiro de Stª Clara de Lisboa e ainda vivia a 18.5.1451, quando
D. Afonso V privilegia D. Mécia Telles, abadessa do mosteiro de Stª
Clara da cidade de Lisboa, autorizando que à morte de D. Maria Correa,
que fora abadessa nesse mosteiro, possa usufruir da sua marinha em Alcácer.
5. Gonçalo Correa,
senhor de juro e herdade das freguesias de Viatodos e de S. Pedro do
Monte e dos casais de Vila Meã, com suas jurisdições (ou seja, senhor
de Fralães), por morte de seu pai Fernando Afonso Correa, com cartas
de confirmação de 4.12.1433 e de 20.7.1449. Sucedeu ainda como senhor
de juro e herdade de Riba de Mouro e de Valadares, tendo trocado esta
última por Cunha-a-Velha e seus casais a 22.12.1411 (CJI, 3, 131v).
A 9.12.1449, sendo referido como Gonçalo Correa, criado de D. João I,
teve confirmação do escambo que fizera com este rei (G.XII,7,4) das
terras de Cunha-a-Velha e seus casais, no almoxarifado de Guimarães,
pela terra de Valadares, no almoxarifado de Ponte de Lima, o que já
lhe fora confirmado por D. Duarte a 21.11.1433. Não sucedeu no préstimo
de Gondomar, que talvez também tenha trocado, pois a 2.12.1433 D. Duarte
doa-a a seu camareiro-mor Fernão de Sá. Gonçalo Correa nasceu cerca
de 1380 e casou cerca de 1419 com Branca Rodrigues Botelho,
segundo Afonso de Torres, Alão e a CP, que a não filiam. Mas é certamente
a Branca Rodrigues que, com seus irmãos Álvaro Botelho, Aires
Botelho e Pedro Botelho, foi legitimada por carta real de 3.1.1398,
todos como filhos de Pedro Botelho, craveiro da Ordem de Cristo, e de
Joana Rodrigues, mulher solteira. Um dia antes da referida legitimação,
D. João I doou a Pedro Botelho, seu criado, "por muitos serujços
que recebemos daquelles donde el descende e del", umas casas
em Coimbra, na Almedina, "acima de sam bras", bem como
as casas da Falcoaria, na Almedina, em que morava João Anes Gago, determinando
que por sua morte possam ficar a seu irmão Álvaro e por morte deste
a seu irmão Aires, e depois passem para "o primeiro filho ou
neto de cada huu dos dictos jrmaãos sempre o mayor", se os
tiverem. Dá assim ideia que estava fora de causa que Pedro Botelho pudesse
ter filhos, talvez por ser clérigo. De um dos irmãos, Álvaro ou Aires,
é certamente filho o Pedro Botelho, cavaleiro fidalgo da Casa Real,
vedor da Fazenda (até 8.5.1475, dada em que foi substituído no cargo
por seu cunhado o 2º conde de Abrantes), que parece foi alcaide-mor
de Pombal (cargo em que se documenta o filho) e vem referido como cavaleiro,
regedor e ouvidor da Casa do Cível, quando a 23.8.1476 teve mercê real
de uma tença anual de 20.000 reais de prata, e como comendador da Ordem
de Cristo quando a 4.3.1475 D. Afonso V lhe dá licença para arrendar por três anos as suas comendas.
Este Pedro Botelho casou com Briolanja de Almeida, filha bastarda do
1º conde de Abrantes, com geração nos senhores do paço da Torre de Figueiredo
das Donas. E irmão deste Pedro Botelho é certamente o Lopo Botelho
que com sua mulher Leonor Gil vivia em Santa Maria de Pombal, do bispado
de Coimbra, quando o filho de ambos, Lopo Lopes, tirou em Braga a 24.4.1451
ordens menores, com licença de seu maior (pelo que era professo ou noviço).
5.1. Gonçalo Correa, sucessor como senhor
de juro e herdade das freguesias de Viatodos e de S. Pedro do Monte
e dos casais de Vila Meã, com suas jurisdições (ou seja, senhor de Fralães),
bem assim como senhor de juro e herdade de Riba de Mouro e Cunha-a-Velha
e seus casais. Foi também meirinho-mor da comarca de Entre-Douro-e-Minho.
A 21.10.1475 D. Afonso V nomeou vitaliciamente Gonçalo Correa, fidalgo
da Casa do duque de Bragança, para o cargo de meirinho-mor da comarca
de Entre-Douro-e-Minho. E a 28.3.1480 nomeou Diogo de Vera, escudeiro
da sua Casa, para o cargo de meirinho na comarca e correição de Entre-Douro-e-Minho,
com o mantimento ordenado, em substituição de Gonçalo Correa, que morrera.
Gonçalo Correa nasceu assim cerca de 1420 e faleceu em 1480, com cerca
de 60 anos de idade. A 18.8.1473 teve autorização do rei para vender ou escambar a terra
de Cunha-a-Velha e seus casais, e de facto vendeu-a, com autorização
de seu filho Paio Correa, a Fernando Anes das Póvoas, mercador do Porto,
com seus casais, terras, rendas, foros, direitos e pensões por 100.000
reais de seis ceitis cada um, tendo recebido 250 cruzados de ouro. A
escritura foi feita a 12.8.1473 em Lisboa, nas casas de João Correa,
cavaleiro, vereador da cidade, e Isabel Dias de Castello-Branco, sua
mulher, e confirmada pelo rei a 12.9.1473, como tudo se vê na documentação
junta à carta real de 3.5.1500 que confirma a Rui Mendes, cavaleiro
da Casa Real, o senhorio de Cunha-a-Velha, por compra ao dito Fernando
Anes das Póvoas. Gonçalo Correa casou, segundo Afonso de Torres e Alão, com Margarida do Prado, filha de
Bartolomeu Afonso do Prado e sua mulher Maria Esteves, moradores no
Porto, como diz Alão, ou de João Afonso do Prado e sua mulher Beatriz
Pimenta, como também diz a CP.
5.1.1. Paio
Correa, que nasceu cerca de 1455 e foi o filho mais velho, pois
dele o pai precisou de autorização para vender em 1473 o senhorio de
Cunha-a-Velha. Mas terá fal. solt. ou, pelo menos, sem geração, pois
sucedeu o irmão.
5.1.2. Maria
da Cunha, que casou com Febus Moniz, que a 21.5.1482 teve
mercê de 10.000 reais de tença, a 4.12.1482 mercê de bens em Viana (de
Caminha), e era vereador do Senado da Câmara de Lisboa quando a 15.8.1502,
juntamente com Lopo Soares e D. Pedro de Castelo Branco, foi procurador
desta cidade às cortes que juraram o príncipe D. João como herdeiro
do trono. C.g.
5.1.3. Leonor Correa, que casou com Martim de Távora, mestre-sala
da rainha D. Isabel, s.g.
5.1.4. Isabel da Cunha, que casou com Álvaro Telles Barreto, capitão
de Chaul que serviu em Arzila em 1503, talvez o Álvaro Telles que a
15.6.1513 teve provisão de D. Manuel I para o receber em Lisboa
20.000 reais que se lhe devia de pimenta, e o Álvaro Telles, fidalgo
da sua casa, a quem a 10.7.1514 D. Manuel I manda o recebedor do seu
tesouro dar 25.000 reais que eram devidos da compra da sua pimenta.
5.1.5. Diogo
Correa, sucessor, fidalgo da Casa do duque de Bragança,
que foi ainda alcaide-mor de Porto de Mós pelo dito duque (depois
de 1516) e nasceu cerca de 1465. A 30.12.1516, no tabelião do
público e judicial de Barcelos (pelo duque de Bragança)
Álvaro Nunes, Diogo Correa e Francisco da Cunha, alcaide-mor
em Porto de Mós, ambos fidalgos da Casa do duque de Bragança,
fizeram um contrato de solene estipulação nos seguintes
termos: Francisco da Cunha consentia e comprometia-se a aceitar que
Diogo Correa ficasse senhor dos bens de raiz que ele Francisco da Cunha
herdará por morte de sua mãe Margarida de Prado, tendo
recebido em troca 40.000 reais de Diogo Correa. Talvez
seja o Diogo Correa que entre 1510 e 1521 foi capitão de Cananor,
se bem que é de 2.12.1513 uma carta de Afonso de Albuquerque
dando parte ao rei que nomeou Diogo Correia como capitão de Cananor,
enquanto o rei não nomeava outro. Podendo ainda ser o Diogo Correa
que era anadel-mor dos espingardeiros quando a 28.4.1527 passou recibo
em que diz ter recebido do feitor um cruzado, e o que a 11.8.1527 teve
provisão do governador Lopo Vaz de Sampaio para receber 100 pardaos
em tangas. E ainda o Diogo Correia que a 24.3.1508 teve alvará
para receber 1.000 cruzados de ouro. E ainda o Diogo Correa, escudeiro
da Casa Real, que a 11.1.1496 foi nomeado coudel de Tomar. Casou em
1509 com Isabel Pinheiro (ou Pereira), nascida
cerca de 1594, filha de Álvaro Pinheiro (Lobo), o Velho, alcaide-mor
de Barcelos pelo duque de Bragança, que a 5.8.1484 teve de D.
João II uma tença de 15.000 reais, e de sua mulher D.
Joana (Pereira ou de Lacerda), com geração nos Correa
Pereira de Lacerda, senhores de Fralães. Com efeito, a 10.5.1509
fizeram-se partilhas dos bens de Nuno Pereira e ao acto compareceu o
neto Henrique Pinheiro, pois sua mãe D. Joana já tinha
falecido, com procurações de suas irmãs D. Filipa
Pereira, D. Isabel Pereira, D. Maria Pereira, "dona" de Santos,
e D. Helena, menores que estavam sob o poder de seu pai Álvaro
Pinheiro, conforme refiro em Reflexões sobre a origem dos Pinheiro,
de Barcelos. E a 13.11.1509 o rei fez mercê a Nicolau Fernandes,
escudeiro, morador em Tavira, de um aforamento que João Lopes
da Costa, cavaleiro, e sua cunhada Isabel Pinheiro, e o marido desta,
Diogo Correa, perderam por fazerem a compra sem autorização.
De Diogo Correa e sua mulher Isabel Pinheiro (como aqui se documenta),
foi filho sucessor Belchior Correa, que faleceu sem geração,
sucedendo-lhe seu irmão António Pereira Correa. A 5.9.1569,
no tabelião de Barcelos Francisco de Mariz, fez-se o auto pelo
qual António Pereira Correa tomou da honra e casais da quintã
de Fralães, por morte de seu irmão Belchior Correa.
|
A
mítica origem dos Lacerda portugueses
Os netos de Diogo Correa e D. Isabel Pereira começam a usar
o nome composto Correa de Lacerda, que se manteve por muitas
gerações, se bem que existam outras origens para a mesma conjugação
de nomes, como por exemplos a dos descendentes de Fernão Correa
e sua mulher D. Isabel Cardoso (filha de Nuno Cardoso e sua
mulher D. Guiomar Pereira ou de Lacerda), que também a usaram.
Este nome Lacerda surge inopinadamente em Portugal nos finais
do séc. XV no seio de uma família cujos ascendentes não só não
o usam como ostentam apelidos diferentes. E aparece a primeira
vez em dois primos contemporâneos, ambos filhos segundos, numa
família Serpa que já então não usava o nome da sua linhagem,
preterido pelo nome Pereira, mais ilustre, que lhe vinha por
via feminina.
O Livro de Linhagens do Século XVI, cioso do conceito
de linhagem e, portanto, das varonias, não trata estes Pereira
por fêmea, radicados no Alentejo, sobretudo na Serpa original.
Os referidos dois primos foram Manuel de Lacerda e Esplandião
de Lacerda. O primeiro já era fidalgo da Casa Real quando
a 22.2.1517 foi servir na Índa, com autorização
real para levar vinte quintais de marfim e seis de coral (RCI,
MI, I, 174). A 17.5.1523
teve mercê da capitania de Goa (ib, II, 219), cargo que
ocupava a 1.5.1527. O segundo, Esplandião ou Esplendião
(Esplendiam), teve de D. João III cinco moios de trigo de tença
(CIII, 67, 85). Eram filhos, respectivamente, de Reimão Pereira
e Diogo Nunes Pereira e netos de Rui Dias de Serpa e de seu
irmão Nuno Pereira, sendo estes filhos de Diogo Nunes de Serpa
e sua mulher Beatriz (Gonçalves) de Abreu. É portanto a este
Diogo Nunes de Serpa que os bisnetos foram necessariamente buscar
a origem comum do nome Lacerda, raciocínio que terá levado os
genealogistas posteriores a atribuir a este Diogo uma fantasiosa
filiação num não menos fantasioso Martim Gonçalves de Lacerda,
que teria casado com D. Violante Pereira, filha natural do prior
do Crato D. Álvaro Gonçalves Pereira.
Logo pela onomástica se vê que estes pais não podiam nunca ter
um filho chamado Diogo Nunes. De resto nem a cronologia o permite.
A 15.5.1393 D. João I doou a Diogo Nunes de Serpa, cavaleiro
seu vassalo, para si e seus sucessores, todos os bens móveis
e de raiz que tinha Vasco Rodrigues, que foi almoxarife em Beja
e andava em deserviço. Este Diogo Nunes de Serpa foi ainda senhor
da quintã da Torre Velha, em Serpa.
De Diogo Nunes de Serpa foi filho Álvaro Gonçalves de Serpa,
escudeiro de D. João I e senhor da dita quintã da Torre Velha,
em Serpa. A 13.7.1395 D. João I doou a Álvaro Gonçalves de Serpa,
seu escudeiro, para si e seus descendentes, umas casas na vila
de Serpa, depois de a 20.4.1384 lhe ter dado em préstamo essas
ou outras casas em Serpa a Álvaro Gonçalves de Serpa, criado
d'el rei D. Fernando, "assy como as trazia seu padre em prestemo
do dcto rey dom fernado".
De Álvaro Gonçalves de Serpa foi filho outro Diogo Nunes de
Serpa, cavaleiro da Casa do infante D. Fernando, que sucedeu
na quintã da Torre Velha, em Serpa. A 15.9.1454 D. Afonso V
doou novamente a Diogo Nunes, cavaleiro do infante D. Fernando,
os bens que haviam sido dados a Rui Dias, compensando este com
o serviço novo dos judeus de Estremoz. Este Diogo Nunes de Serpa
casou em 1417 com Beatriz (Gonçalves) de Abreu, filha de Gonçalo
Anes de Abreu, senhor de Castelo de Vide, Monforte, etc. A 20.5.1417
D. João I confirmou a Diogo Nunes de Serpa a quinta de Armenta,
junto a Sacavém, que seu sogro Gonçalo Anes de Abreu, seu vassalo,
lhe deu em dote de casamento, quinta que fora de Lopo Fernandes
Pacheco e este perdera, tendo-a o dito rei doado de juro e herdade
ao dito Gonçalo Anes de Abreu (CJI, 3, 102v). Estes foram pais
de Rui Dias de Serpa e de Nuno Pereira. A 28.8.1455 D. Afonso
V privilegiou Rui Dias de Serpa, fidalgo da sua Casa, coutando-lhe
a seu pedido uma quintã no termo da vila de Serpa a que chamam
Torre Velha, tal como a tiveram seu avô e pai. A 22.12.1455
o mesmo rei perdoou a Rui Dias de Serpa, Nuno Pereira, seu irmão,
João da Fonseca, Rui Pais, Álvaro Vasques e a João Martins,
todos moradores na vila de Serpa, o tempo que lhes falta cumprir
de um ano de degredo a que tinham sido condenados por umas mortes
que tinham feito em Serpa, numa contenda com João de Mello.
Rui Dias de Serpa e os seus (entre eles seu irmão mais novo
Nuno Pereira) tiveram um grave conflito em Serpa com João de
Mello e os seus, de que resultaram várias mortes e mais de uma
vintena de cartas de perdão de 1452 para escudeiros, criados
e apaniguados seus e desse seu irmão, igualmente morador em
Serpa, sendo nessas cartas Rui Dias de Serpa referido como fidalgo
da Casa Real, mas seu irmão não.
Estaria ainda degredado quando a 6.3.1453 o rei privilegiou
Rui Dias de Serpa, fidalgo da sua Casa, isentando todos os seus
homens de servir na guerra, em serviço régio ou de outrem, salvo
com ele próprio. Pouco depois, a 23.5.1453, o rei concedeu carta
de privilégio a Rui Dias de Serpa, cavaleiro da sua Casa, para
todos os seus caseiros, mordomos, apaniguados e lavradores da
comarca e correição de Entre-Tejo-e-Odiana.
Rui Dias de Serpa casou a 1ª vez com D. Margarida de Ataíde,
de quem teve Diogo Nunes Pereira e certamente a D. Branca de
Ataíde a quem em 1530 D. João III deu carta de
coutada para a quinta da Torre Velha, em Serpa. Casou Rui Dias
de Serpa a 2ª vez com D. Maria de Mello, de quem teve João Rodrigues
Pereira, que tirou ordens menores a 8.9.1480 na Vidigueira ("Johannem
Roderici Pereyra legitimum filium quondam Roderici Didaci de
Serpa et donne Marie de Meello habitancium in Serpa de legitimo
matrimonio procreatum"), e D. Inez de Mello, casada com
João Rodrigues da Câmara, 4º capitão donatário da ilha de S.
Miguel. Muito provavelmente Rui Dias de Serpa foi ainda pai,
talvez natural, do Rui Pereira que foi fidalgo da Casa do infante
D. Fernando, coudel de Serpa, etc., e do Rui Dias, escudeiro,
morador na vila de Serpa, que a 7.10.1475 foi nomeado vitaliciamente
juiz perante os mouros e judeus da dita vila e a 22 seguinte
e 3 de Novembro recebedor das sisas, com 2.000 reais de mantimento,
e juiz das sisas da mesma vila.
O Nuno Pereira que ficou acima (irmão mais novo de Rui Dias
de Serpa) foi fidalgo da Casa do duque de Bragança (1464) e
alcaide-mor e senhor dos direitos reais da Vidigueira e Vila
Nova de Frades (1483), tendo falecido antes de 10.5.1509, data
em que os herdeiros fizeram partilha dos seus bens, escritura
onde se documenta a primeira vez seu neto, o referido Manuel
de Lacerda. D. João II doou a 16.9.1483 a Nuno Pereira, fidalgo
da sua Casa, os direitos reais da Vidigueira e Vila Nova de
Frades e a 30.9.1483 as respectivas alcaidarias-mores. A 25.2.1505
João de Faria, fidalgo da Casa d'el rei e alcaide-mor da vila
de Portel, teve confirmação de D. Manuel I do privilégio pelo
qual lhe foi coutada uma herdade que se chamava das Valadas,
no termo da vila de Serpa, com as confrontações declaradas,
que lhe fora dada em casamento pelo sogro, Nuno Pereira, fidalgo
da Casa d'el rei e morador nesta vila, a quem fora concedido
esse privilégio para uma terra e assentamento de herdades, que
chamam da Figueira, de que faz parte a herdade citada. Parece
que Nuno Pereira foi também alcaide-mor de Portel, vila onde
vivia em 1480 com sua mulher D. Guiomar, quando tiraram ordens
menores em Évora os filhos de ambos Álvaro Pereira, Rui Dias,
Garcia Pereira, Henrique Pereira, Duarte Pereira, Henrique Pereira
e João. Sua mulher D. Guiomar morreu antes de 19.6.1485, data
da escritura lavrada em Serpa pela qual os seus bens foram partilhados
pelo viúvo e os treze filhos de ambos, cinco já casados e os
restantes menores, como refiro nas minhas Reflexões
sobre a origem dos Pinheiro, de Barcelos.
Alão começa esta família num Martim Gonçalves de Lacerda casado
com D. Violante Pereira, seguindo assim a informação de Afonso
de Torres, segundo o qual Afonso Lopes de Haro passou a 27.9.1617
uma certidão a Nuno Álvares Pereira segunda a qual os Pereira
de Lacerda portugueses descendiam de um Martim Gonçalves de
Lacerda, fidalgo castelhano da Casa dos duques de Medina Celi,
que passou a Portugal no reinado de D. Fernando, a quem este
rei doou os lugares de Punhete, Sardoal, Galegã, Borralha, Amêdoa
e Sovereira Formosa, e aqui casou com D. Violante Pereira, filha
do prior do Crato. Mas, talvez apercebendo-se do erro, logo
Alão acrescenta que outros dizem que foi Afonso Fernandes de
Lacerda o castelhano que passou a Portugal no reinado de D.
Fernando, a quem este rei doou as vilas de Sardoal, Golegã,
Borralha, etc., e que casou com a dita com D. Violante Pereira.
Na verdade, foi a Afonso Fernandes de Lacerda que D. Fernando
doou em 1369 as vilas de Sardoal, Golegã, Borralha e Punhete.
E a 3.5.1372 doou-lhe todas as jurisdições de metade de Amêndoa
(freguesia do concelho de Mação, distrito de Santarém). A certidão
seiscentista de Afonso Lopes de Haro inventou um Martim Gonçalves
de Lacerda, que desde então infestou a genealogia portuguesa
(porque quando aparece em D. António de Lima Pereira é já certamente
acrescento de um dos seus continuadores, nomeadamente D. Jerónimo
de Ataíde). E, como veremos, inventou também o seu casamento
com a filha do prior do Crato.
Mas
a dita certidão não diz como se estabelecia a ligação entre
esse mítico Martim Gonçalves de Lacerda e os mais antigos ascendentes
conhecidos dos Pereira de Lacerda, pelo que ficou à imaginação
dos nossos genealógicos estabelecer esse entroncamento, o que
afoitamente fizeram sem qualquer respeito pela cronologia, onomástica
e estatuto das pessoas envolvidas.
Quer pelo patronímico quer mesmo
pela não sucessão nestes senhorios, para já não falar no nome
de família e estatuto, é evidente Diogo Nunes de Serpa não era
nem podia ser neto paterno daquele Afonso Fernandes de Lacerda.
Mas podia ter casado com uma sua neta materna, limitando-se
as genealogias tardias a transformar o sogro em pai, mesmo trocando-lhe
o nome?
Já Luiz de Mello Vaz de São-Payo propõe que este Diogo Nunes
de Serpa tenha casado com uma Lacerda, que diz possível filha
de um Martim Gonçalves e de uma filha natural de D. Juan de
la Cerda e de sua amante judia Sol Martinez, numa solução engenhosa
mas na verdade impossível.
Aquele Afonso Fernandes de Lacerda é, na verdade, D. Alfonso
Fernández de la Cerda, filho do infante D. Juan Alfonso de la
Cerda, senhor de Gibraleón, Real de Manzanares, Huelva y Deza,
e de Maria de Luna. Partidário de Pedro I o Cruel na guerra
contra D. Enrique de Trastamara, em 1369, com a morte de Pedro
I, apoiou as pretensões de D. Fernando I ao trono castelhano
e veio para Portugal, onde casou com D. Leonor de Menezes, de
quem teve um único filho conhecido, D. Juan Alfonso de la Cerda,
senhor de Villoria, falecido em 1393, casado com D.Maria Alvarez
de Albornoz, com geração. D. Alfonso Fernández de la Cerda casou
2ª vez com Mor Martins, senhora de La Vega de Armijo, de quem
teve D. Leonor de la Cerda, senhora de La Vega de Armijo, que
casou com Luiz Messía.
É assim aceitável que os Lacerda que vão mais tarde aparecer
em Portugal, descendentes de Diogo Nunes de Serpa, de alguma
forma descendam deste D. Alfonso Fernández de la Cerda, o único
desta família que esteve em Portugal nesta cronologia. Mas como?
A verdade é que Diogo Nunes de Serpa se documenta como cavaleiro
de D. João I em 1393 e seu filho Álvaro Gonçalves de Serpa como
escudeiro do mesmo rei em 1395. O neto, também Diogo Nunes de
Serpa, casou em 1417, documenta-se como cavaleiro em 1454, e
os bisnetos, Rui Dias de Serpa e Nuno Pereira, documentam-se
desde 1453. Deste conjunto cronológico podemos concluir que
Álvaro Gonçalves de Serpa não nasceu depois de 1375 e provavelmente
nasceu antes, cerca de 1368. Assim, não podia ser neto (materno) de D. Alfonso Fernández de la Cerda, que só em 1368
veio para Portugal. Logo, se esta ligação existiu, Álvaro Gonçalves
de Serpa tinha de ser genro deste D. Alfonso Fernández de la
Cerda.
Quer isto dizer que foi seu pai Diogo Nunes de Serpa que casou
com D. Violante Pereira, o que é cronologicamente mais aceitável.
De resto, este casamento de Diogo Nunes de Serpa com uma filha
de D. Frei Álvaro Gonçalves Pereira, além de acertar na cronologia,
vem explicar devidamente porque razão o filho se chamou Álvaro
Gonçalves de Serpa, ou seja: usou o prenome e patronímico do
avô materno, o incontornável prior do Crato D. Frei Álvaro Gonçalves.
Portanto, se houve alguma ligação com os la Cerda, como o uso
deste nome pela descendência, umas gerações mais tarde, parece
indicar, esse casamento ter-se-á realizado justamente com Álvaro
Gonçalves de Serpa, que de facto pode ter casado (antes de 1396)
com uma filha, legítima ou bastarda, de D. Alfonso Fernández
de la Cerda. Se de facto era neto materno de D. Frei Álvaro
Gonçalves Pereira, portanto sobrinho do condestável D. Nuno
Álvares Pereira, Álvaro Gonçalves de Serpa teria já o estatuto
mínimo para que se aceite um casamento com uma filha de D. Alfonso
Fernández de la Cerda, se bem que a falta quer de notícia genealógica
concreta quer de rasto documental possa colocar em causa esta
hipótese, sobretudo se a filha for legítima. Afinal, tratava-se
de uma 4ª neta na varonia de D. Afonso X, o Sábio.
O apetecido nome Lacerda ficou assim em letargia durante várias
gerações, para reaparecer inopinadamente nos finais do século
XV? Pode ser, se bem que também pode ter acontecido que tenha
sido usado ao longo do séc. XV por algumas senhoras da família,
que não tiveram geração e das quais não ficou registo, o que
teria ajudado a manter a sua memória familiar. Como quer que
seja, esta hipótese tem, pelo menos, consistência cronológica
e onomástica, não é contrariada pela documentação conhecida,
tem viabilidade histórico-sociológica e dá resposta aos indícios
de ligação familiar aos Lacerda que se verificam no século seguinte.
De salientar, a propósito, que D. Manuel I mandou a 15.4.1508
passar carta de armas da "Casa e linhagem dos de Lacerda"
a Manuel de Góis de Lacerda, documento que infelizmente não
revela a sua ascendência. As genealogias também não o referem,
embora dêem conta de dois casamentos entre estes Serpa/Pereira/Lacerda
e Góis, um deles entre Nuno Álvares Pereira e Beatriz de Góis,
filha de Luiz de Góis, tesoureiro de D. Manuel I, e outro entre
Heitor Pereira e D. Leonor de Góis, talvez irmã deste tesoureiro.
O primeiro caso está cronologicamente fora de causa, uma vez
que Nuno Álvares Pereira era filho do Rui Dias Pereira que tirou
ordens menores em Portel em 1480 e, como vimos, ainda era menor
de idade em 1485, pelo que não podia ter um neto armigerado
em 1508. No segundo caso, aquele Heitor Pereira é referido por
Afonso de Torres, que o diz solteiro, sem geração, e irmão do
já referido Espandião de Lacerda. Mas depois acrescenta que
José de Quevedo diz que o dito Heitor Pereira viveu casado em
Serpa com D. Leonor de Góis, com geração. Ora, a 18.3.1487 D.
João II deu carta de privilégio de fidalgo a um Heitor Pereira
que bem parece ser este, embora a cronologia não permita que
fosse irmão mas sim tio de Espandião, portanto filho de uma
das duas mulheres de Rui Dias Pereira ou até seu filho natural.
Ou seja, teriam razão Afonso de Torres (o Heitor irmão de Espandião
não teve geração) e José de Quevedo (um Heitor Pereira casou
em Serpa com D. Leonor de Góis). Assim sendo, aquele Manuel
de Góis de Lacerda pode ter nascido cerca de 1480 ou mesmo antes.
Resta
acrescentar que Alão dá ao mítico Martim
Gonçalves de Lacerda (aqui identificado como sendo possivelmente
Diogo Nunes de Serpa) e sua alegada mulher D. Violante Pereira
dois filhos: Diogo Nunes Pereira, que viveu em Serpa, e uma
filha, que não nomeia, casada com Garcia Afonso do Casal
"que jaz mirrado em Santarém". Mas
depois, em Ferreiras, diz que Gomes Ferreira, irmão mais
velho de Aires Ferreira, casou com Isabel Pereira, filha de
Martim Gonçalves de Lacerda, senhor do Sardoal, e de
sua mulher Violante Álvares Pereira, irmã do condestável,
a qual Isabel Pereira casou 2ª vez com Gonçalo Correa,
senhor de Fralães, "ainda que em seu titº
não se ache". Gaio já burila mais esta
informação, dizendo que Gomes Ferreira casou com
D. Isabel Pereira de Lacerda, segundo uns filha de Martim Fernandes
de Lacerda (sic) e segundo outros de Afonso Fernandes de Lacerda,
sendo a mãe sempre Violante Álvares Pereira, mas
acrescenta que Oliveira diz que Gomes Ferreira casou com D.
Catarina de Meira. Diz também,
sobre Gonçalo Correa, que "dizem"
que casara 2ª vez com Isabel Álvares Pereira, viúva
de Gomes Pereira, "o q so vimos em uma memoria, o q
não seguimos". Como se pode ver no meu Ensaio
sobre a origem dos Ferreira, Gomes Ferreira de facto
casou com D. Catarina de Meira, documentando-se também
que não deixou geração. E Gonçalo
Correa, como ficou dito acima e o próprio Alão
diz no seu título, não casou com nenhuma Isabel
Pereira. |
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5.1.6. Francisco da Cunha, que 1516 se documenta irmão de Gonçalo
Correa, alcaide-mor de Porto de Mós e fidalgo da Casa do duque
de Bragança, como ficou dito. Alão diz ter servido na
Índia com Tristão da Cunha e que, voltando, casou em Elvas
com D. Beatriz da Silva, filha do alcaide-mor Rui de Abreu. S.g. Talvez
seja o Francisco da Cunha, capitão da caravela de Estêvão
Franco, que a 20.7.1513 teve provisão para receber 9 arrobas
e 24 arráteis de carne para mantimento de doze homens que leva
nesta armada, por tempo de um mês. Podendo ainda ser o Francisco
Correa cuja mulher e herdeiros tiveram a 6.5.1520 provisão para
receber 44.000 reais do último terço de seu casamento.
E o Francisco da Cunha, fidalgo da Casa Real, que a 24.1.1533 teve mercê
da capitania de Chaul.
5.1.6. Garcia da Cunha, que consta como escudeiro fidalgo da Casa de D.
João III, com 1.500 reais de moradia, na lista de ACS (Provas),
sendo aí identificado como "cunhado de Febus Moniz",
o que revela que era certamente o mais novo dos filhos de Gonçalo
Correa. Terá nascido pouco antes de 1480, ano da morte do pai, e faleceu
depois de Janeiro de 1565, portanto com mais de 85 anos de idade. Alão diz que serviu com seu irmão Francisco na Índia e deixou uma filha
natural, para quem instituiu o vínculo de Vila Meã, em propriedades
que pertenciam ao senhorio de Fralães. Segundo a informação de Gaio,
que deve ser credível, este vínculo foi instituído por testamento feito
em Barcelos a 14.1.1565 no notário P. Serrão, e lançado no tabelião
de Penela por Lourenço Fernandes Mahia, a 15.3.1647, a requerimento
de Giraldo Martins da Fonseca.
5.2. João Correa, que em 1474 vivia em Lisboa, sendo cavaleiro fidalgo
da Casa Real e vereador do Senado da Câmara desta cidade. Foi nas suas
casas de Lisboa, com sua mulher Isabel Dias de Castello-Branco, que
seu irmão Gonçalo vendeu o senhorio de Cunha-a-Velha. A 26.2.1456 D.
Afonso V quita a João Correa tudo o que ficou em dívida quando exerceu
o cargo de tesoureiro da moeda da cidade de Lisboa seu sogro Diogo Gonçalves
de Castello-Branco, cavaleiro da Casa do infante D. Henrique, a seu
pedido e como seu herdeiro. Deve ainda ser o João
Correia, cavaleiro da Casa Real, que a 22.12.1472 teve do rei uma tença
anual de 12.000 reais brancos. Casou portanto com Isabel Dias de
Castello-Branco, que ainda vivia com seu marido em Lisboa em 1474,
filha Diogo Gonçalves de Castello-Branco, cavaleiro da Casa
do infante D. Henrique, que foi tesoureiro da moeda da cidade de Lisboa.
Este Diogo Gonçalves de Castello-Branco deve ser o homónimo, escudeiro e criado d’el rei, que
a 20.4.1452 teve mercê real de uma tença anual de 7.000 reais de prata.
Esteve na tomada de Ceuta e viveu em Leiria, onde casou com Catarina
da Fonseca, certamente a mãe daquela Isabel. Diogo Gonçalves de Castello-Branco
teve ainda uma filha bastarda, Leonor, legitimada por carta real. Era
filho de Gonçalo Vaz de Castello-Branco, senhor da honra de Sobrado
e dos direitos reais de Paiva (15.4.1386), em que terá sucedido a seu
irmão. D. António de Lima diz que foi alcaide-mor de Castelo Branco
e camareiro-mor. Deve ter sucedido também nos restantes bens de seu
pai, nomeadamente no morgadio de Castelo Branco instituído por Martim
Esteves. Ou este ou um seu homónimo teve mercê de D. João I dos direitos
reais da judiaria de Coimbra. Este
João Correa, que as genealogias confundem com deu tio homónimo e a quem
dão os filhos que ele teve, não deve ter tido geração. Mas pode ter
sido pai do seguinte homónimo:
5.2.1. João Correa, possível
filho de João Correa. Era comendador de Aljezur da Ordem de Santiago quando a
26.4.1475 teve licença real para arrendar esta sua comenda por três
anos. E já tinha falecido a 25.1.1497 quando sua viúva, Isabel de
Souza, para a criação de seus filhos (portanto tinha filhos menores),
teve confirmação da tença de 15.000 reais que seu marido tinha tido
confirmada por D. Manuel I a 1.1.1485. Entre estes filhos parece estar
Jorge Correa, fidalgo da Casa Real, a quem D. João II doou a 8.4.1497
a capitania da ilha de Santiago (Cabo Verde), por ter casado com D.
Branca de Aguiar, filha de Micer António de Noli, que descobriu a ilha
em 1460, e que após a sua morte tivera a mercê da dita capitania para
quem com ela casasse.
5.3. Branca Correa, freira em Arouca, segundo Alão.
5.4. Isabel da Cunha.
5.5. Frei Paio Correa, nascido cerca de 1425, cavaleiro da Ordem
de S. João do Conselho de D. Afonso V, foi bailio e comendador
de Leça (desde 1454), tendo participado no Capitulo provincial em 1477
na Sertã (1472).A 11.5.1472 este rei deu Frei Paio Correa, do seu Conselho, uma
tença anual de 12.000 reais de prata. A 6.3.1475 o mesmo rei
privilegiou Frei Paio Correa, bailio de Leça, concedendo-lhe licença
para arrendar por um ano as suas comendas. A 24.8.1481 D. Afonso V nomeou
Pedro de Basto, escudeiro e criado de Frei Paio Correa, para o cargo
de tabelião do cível e crime nos julgados da Maia e Azurara,
termo da cidade do Porto, em substituição de Brás
Martins, o Moço, que morrera..
5.5.1. (N) D. Guiomar Correa, n.
cerca de 1472. Casou cerca de 1490 com D. Sancho de Noronha,
c.g. As genealogias tardias dizem que esta Guiomar Correa era já
viúva de Nuno Cardoso, morgado da Taipa (Lamego), o que é
erro. A Guiomar Correa mulher de Nuno Cardoso foi legitimada por carta
real de 18.6.1502 e era filha Frei Paio Correa, comendador de Amieira,
como já ficou dito.
5.5.1. (N) Paio Correa, segundo
algumas genealogias, que o dizem casado em Vila Real com Filipa de
Barros, c.g. Mais provavelmente é Frei Paio Correa que exerceu
funções de lugar-tenente do prior do Crato, qualidade
em que presidiu a vários Capítulos provinciais, nomeadamente
em Leça (1520) e Lamego (1522), podendo ter tido filhos de Filipa
de Barros.
5.5.2. (N) Maria Correa, n. cerca de 1475, que foi a 2ª mulher
de Gonçalo Pereira, n. cerca de 1456, filho de Vasco Pereira,
senhor de Cabeçais e Fermedo, e de sua mulher Isabel Pereira, que com
seu marido teve mercê do senhorio de Fermedo que tinha sido de seu avô
Aires Gonçalves de Figueiredo. Vasco Pereira e seu irmão Fernão Pereira
(pai do 1º conde da Feira) têm a 17.1.1466 autorização real para que
possam usufruir dos bens que pertenceram a seus pais, João Álvares Pereira,
2º senhor da Feira, e Leonor Gomes de Mello. A 2.5.1442 D. Afonso V
doou a Vasco Pereira, fidalgo da sua Casa, e a Isabel Pereira, fidalga
da Casa do infante D. Pedro, pelo seu casamento, uma tença anual
de 15.000 reais, até prefazer a quantia de 1.500 coroas de ouro
do cunho do rei de França, a ser paga pelo almoxarifado do Porto.
Com geração.
5.6. Pedro Correa, cavaleiro da Casa Real e criado do infante
D. Henrique, capitão donatário da Ilha Graciosa (em 1485, mas para onde
foi em 1450), que cerca de 1458 comprou por 300.000 reais, a 30.000
reais anuais de juro, à viúva de seu futuro sogro, o senhorio da ilha
de Porto Santo, que depois perdeu por demanda de seu cunhado Bartolomeu
Perestrello. Com efeito, a 15.3.1473 D. Afonso V confirma doação, para
sempre, a Bartolomeu Perestrello, criado do infante D. Fernando, filho
de Bartolomeu Perestrello o Velho, da ilha de Porto Santo, toda a jurisdição
cível e crime, excepto pena de morte e mutilação, entre outros privilégios,
na sequência de uma acção com Pedro Correa, cavaleiro da Casa Real e
criado do Infante D. Henrique, que a dita ilha tinha e possuía (inserta
a carta de doação do infante D. Henrique de 1.11.1446). Pedro Correa
nasceu cerca de 1426 e faleceu em 1499 em Charneca, termo de Lisboa,
e jaz na capela de S. João do convento do Carmo. Casou cerca de 1465
com Iseu Perestrello, filha de Bartolomeu Perestrello, o Velho,
e de sua terceira mulher Catarina de Mendonça. Este Bartolomeu Perestrello, o Velho, nasceu em 1396 em Lisboa e faleceu
cerca de 1457 na vila da Baleira, em Porto Santo, sendo sepultado, ao
que parece na matriz de Nossa Senhora da Piedade. Em 1438 era, com seu
irmão Richarte, vereador do Senado da Câmara de Lisboa. Em 1442 era
procurador de Bragança. Julga-se que já esteve na conquista de Ceuta
(1415). Mas parece que não participou na “descoberta” da Madeira nem
mesmo de Porto Santo. Era fidalgo da Casa do infante D. João quando
em 1426 o infante D. Henrique o fez capitão da ilha de Porto Santo e
encarregou do povoamento e colonização desta ilha. Não terá ido para
lá imediatamente, ou então voltou, pois em 1437 era vereador do Senado
da Câmara de Lisboa. Só a 1.9.1449, já referido como fidalgo da Casa
do infante D. Henrique, teve deste o senhorio da dita ilha de Porto
Santo: "Eu dou carreguo a Bertholomeu perestrello, fidalgo de
minha casa da minha ylha de porto santo para que elle dito Bertholomeu
perestrello ha mantenha por mim em Justiça & direyto & morrendo
elle a mim praz que seu filho primeyro ou algum se tal for tenha este
carreguo pela guisa suso dita y asy de decemdente em decemdente por
linha dereyta (...) tenha (...) jurisdiçom (...) do ciuell & crime
resalbando morte ou talhamento de membro (…)". Com geração.
2005